quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cidadãos de Vidro

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Várias cidades brasileiras estão se "armando" de câmeras de vigilância para combater o crime

Câmeras existentes em Rodovias entre São Paulo e Litoral

São José, na grande Florianópolis, em Santa Catarina, instalará até o fim do ano 30 câmeras com alcance de até 200 metros. No ano que vem a cidade deverá posicionar novas câmeras em mais 30 locais para monitoramento.

Florianópolis já tem um sistema parecido, com 85 câmeras já existentes e a compra de mais 160 em fase de licitação. Em 2007 a Prefeitura de Floripa já havia instalado pelo menos 17 câmeras "inteligentes" no centro da cidade. Câmeras que possibilitariam até mesmo o diálogo entre transeuntes e os "guardas" por trás delas, nas centrais de monitoramento.

Essa notícia foi publicada no Diário Catarinense, de 26 de Julho, ou seja, na Segunda-Feira passada. Também informa que, segundo a Polícia Militar (representada pelo Tenente Coronel Newton Ramlow), estes sistemas reduzem em até 70% dos assaltos (não informando, infelizmente, qual a fonte de pesquisa para se chegar a tal valor).

Em outro jornal catarinense, A Notícia, em 21 de Julho, somos informados que a cidade de Joinville também começa a instalar câmeras de monitoramento. Neste caso, por enquanto, o local escolhido para vigilância é a Estação Rodoviária, hoje com 5 câmeras e já em processo de compra de mais 4.

Parece ser uma forte tendência as cidades se "armarem" de câmeras de vigilância, sejam estilosas como aquelas encontradas nos Totens de Salvador, ou escondidas nos banheiros das escolas cariocas, ou mesmo aqueles modelos mais simples, como devem ser as utilizadas na Rodoviária de Joinville.

Parece também ser uniforme a forma com que estas câmeras são colocadas em locais públicos sem o mínimo de debate. São simplesmente instaladas nos locais desejados pelos órgãos do Estado, e ponto final.  

A imprensa, infelizmente, não opina, e nem ao menos traz noticiário reflexivo. Apenas o bê-a-bá comum e simples. Uma só opinião, um só foco (de algum representante do Estado, preferencialmente), e pronto.

Enquanto isso os cidadãos tornam-se a cada dia que passa mais "transparentes", verdadeiros "homens de vidro", sendo seguidos por câmeras onde quer que estejam, em espaços privados, ou públicos.

Tudo em nome de uma espécie de "Bem Maior", indiscutível, irreversível.

domingo, 25 de julho de 2010

Câmeras Reduzem o Crime nas Cidades ?

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Nesta postagem de hoje continuo uma análise das vantagens e desvantagens de Câmeras de Vigilância. Vamos encontrar aqui uma notícia de Setembro de 2007 que sugere um bom argumento contra elas (ou que pelo menos suscita um bom debate).

A notícia foi encontrado nas páginas do IDG News Service. E a partir dela podemos conjecturar mais questões.

Será que vale mesmo a pena gastar tanto dinheiro público, além de reduzir a privacidade dos indivíduos (e quiçá a dignidades deles, conforme críticas de Stefano Rodotà) por conta de uma possível redução da violência urbana ?

E quando se tem evidências de que essa violência não diminui, a despeito das câmeras. Por que construir e manter um aparato de vigilância tão caro ?

Vejam a matéria.

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A cidade de Londres tem mais de 10 mil câmeras de vigilância instaladas em áreas públicas, mas somente um em cada cinco crimes é resolvido por conta da vigilância, afirmou Dee Doocey, porta-voz do partido Liberal Democrata na Assembléia de Londres, responsável pela determinação de políticas de transporte e policiamento nos 32 distritos de Londres e o centro da cidade.
"Nossos números mostram que não há ligação entre o alto número de câmeras de vigilância (CCTV) instaladas e uma redução na incidência de crimes" comparou Doocey. "Distritos com centenas de CCTVs não estão se saindo melhor do que áreas com uma dúzia de câmeras."
Os defensores das câmeras de vigilância acreditam que a solução está mais voltada a prevenir do que solucionar o crime. No entanto, embora as câmeras na cidade tenham ajudado policiais a identificar, em poucos dias, os responsáveis pelo atentado a bomba no metrô de Londres, em julho de 2005, não conseguiram evitar o incidente.
Nos últimos dez anos, a instalação das CCTVs na cidade de Londres custou mais de 200 milhões de libras (400 milhões de dólares) aos cofres públicos, disse Doocey, que sugere um debate mais amplo sobre o policiamento da cidade.
Peter Sayer, editor do IDG News Service
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Quarta-Feira volto a postar.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sobre a Tele-Vigilância

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Nos últimos 3 posts publicados aqui tenho abordado a questão de Câmeras encontradas em banheiros de uma escola do Rio de Janeiro.

Podemos perceber, até mesmo pelos comentários recebidos, que há uma grande dubiedade na relação entre as câmeras e as necessidades da sociedade no que se refere à segurança. Na realidade, talvez possamos falar em paradoxo. Pois se deseja mais segurança, que aparentemente seria conseguida com as câmeras de vigilância, mas, ao mesmo tempo, se quer manter a privacidade dos indivíduos (mesmo que apenas em pequenos espaços).

Em artigo de Leonardo Teixeira de Mello de 2006 encontrei uma boa dose de informações que podem diminuir um pouco nossas dúvidas a respeito da Tele-Vigilância.

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Hoje em dia, pode-se falar que a vigilância se tornou demasiadamente presente nas mais diversas cidades, sendo a proliferação de câmeras de vídeo em inúmeros ambientes um dos exemplos mais significativos e reveladores desse processo de monitoramento e de controle dos espaços urbanos. “Agora, tornou-se virtualmente impossível se mover pelo espaço público (e, progressivamente, no privado) sem ser fotografado ou filmado”, constatam Norris e Armstrong acerca do avanço dos sistemas de vigilância na sociedade britânica. De fato, começa a se configurar, de uma forma ainda mais intensa, uma espécie de policiamento, no sentido de auscultar, monitorar os indivíduos e os espaços, onde toda a intimidade, bem como toda obscuridade, cederiam lugar ao esclarecimento e à superexposição de detalhes.
A crescente utilização dessas câmeras de vídeo nos mais variados espaços urbanos reflete a generalização em curso da tele-vigilância, a qual se torna, dentre outras considerações, o fenômeno securitário de controle das cidades. A partir desta que seria compreendida como uma vigilância televisual, comum não só a Berlin de Michael Klier ou às cidades inglesas descritas por Norris e Armstrong, mas também a outros sítios urbanos nas mais diversas localidades, observa-se o surgimento de um novo território, de uma verdadeira “vídeo-cidade”. Um território cujo volume material, em uma certa perspectiva, é substituído progressivamente por informações eletrônicas instantâneas dos sinais de vídeo.
Um dos objetivos propostos por essa tele-vigilância em tempo real seria tornar sua presença não mais ocasional e sim pesar em permanência sobre as ações dos indivíduos. Abandona-se a idéia de uma repressão exercida pontualmente pelos agentes mais fortes ou mais numerosos em proveito de uma vigilância imanente aos espaços, onde a conscientização dos indivíduos de que sempre se pode ser observado os afastaria das práticas delituosas, das ilegalidades.
(Então, compilando tudo que falou, ele cita os autores VITALIS, A. & HEILMANN, E.)
"Quando os indivíduos se sentem vigiados pelas câmeras, mesmo que não exista ninguém na régie, há um condicionamento e há uma espécie de comando. A vídeovigilância é um comando de comportamentos. Ao mesmo tempo que ela dissuade os delinqüentes, ela modifica os comportamentos de todo mundo".
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O texto completo encontra-se no endereço a seguir:

domingo, 18 de julho de 2010

Vigilância em Escola no Rio de Janeiro

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O texto abaixo, complementar à matéria da Rede Globo, é da professora da UFRJ, Fernanda Bruno, que também pesquisa sobre o tema Vigilância. Transcrevi de uma postagem do seu blog Dispositivos de Visibilidade e Subjetividade Contemporânea, publicada em Novembro de 2007:
Cresce em todo o mundo a instalação de câmeras de vigilância em escolas, sob o argumento de prevenir atos de vandalismo e violência. No Brasil, São Paulo e Brasília têm os maiores projetos de vigilância nas escolas públicas. Em São Paulo, 300 escolas da rede municipal estão sendo equipadas e no Distrito Federal são 620 escolas públicas a contar com câmeras de vigilância.
Segundo a ABESE (Associação das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança) as escolas privadas foram pioneiras no uso de monitoramento eletrônico, o que não surpreende, em particular no Brasil, onde a vigilância privada supera em muito a pública, o que nos diferencia de boa parte do mundo em termos de vídeo-vigilância. É perturbador ver essa adesão inquestionada à vídeo-vigilância e a sistemas de inspeção policiais em ambientes escolares.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Câmeras versus Vandalismo

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A instalação de câmeras de segurança nos banheiros de uma escola estadual em Campos (RJ) sem que os alunos tenham sido avisados provocou a reação dos pais após uma estudante descobrir o equipamento. Desconfiada de que estava sendo filmada, a estudante encontrou a câmera e filmou o equipamento no banheiro do Liceu de Humanidades, um dos colégios mais tradicionais de Campos, onde estudam 3,4 mil alunos. As informações são do Jornal Nacional.

A direção informou que há 30 câmeras instaladas em vários pontos e alegou que os equipamentos são uma maneira de evitar furtos e vandalismo. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, a instalação dos equipamentos foi uma decisão isolada da direção da escola e repudia qualquer prática que possa ferir a privacidade dos alunos. A secretaria informou também que as câmeras já foram desativadas.

Fonte: Portal Terra

domingo, 11 de julho de 2010

O Fim do Fim da Privacidade

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O texto que segue foi transcrito (um pequeno trecho) da edição de julho da Revista Superinteressante.

A autoria é de Pedro Burgos. Não existe ainda link online desse artigo. Portanto, quem quiser ler o mesmo na totalidade (vale a pena) tem de ir às bancas e comprar a Revista.

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O Fim do Fim da Privacidade

Uma em cada 4 pessoas que usam a internet no mundo tem uma conta no Facebook. Esse meio bilhão de pessoas publica 14 milhões de fotos diariamente. Os 100 milhões de usuários do Twitter postam 2 bilhões de mensagens por mês. Dê um Google no nome de alguém e os tweets dele vão estar lá. Pesquisadores cunham termos bonitos como a “era da hipertransparência” para tentar falar que há Xeretas e exibicionistas demais hoje.
E a maior rede social do planeta deu um passo grande rumo a tal hipertransparência: em maio, o Facebook mudou as regras sobre o quanto que estranhos podem saber da sua vida. “Estamos construindo uma internet onde o padrão é ser sociável“, decretou Mark Zuckerberg, criador e presidente do site, ao anunciar as mudanças. Utopia sociológica à parte, interessa para ele que usuários de seu serviço possam ser encontrados com mais facilidade. Se você não está no Facebook e encontra aquele amor antigo do ginásio ali, tende a entrar para a rede social. E, quanto mais gente lá, mais Zuckerberg pode faturar com publicidade.
Às mudanças: de cara., elas parecem bem sutis. Antes, não dava para Ver a foto de perfil ou a idade de uma pessoa pesquisada, por exemplo. Agora, a não ser que o usuário mude as configurações no braço, um resumo de sua ficha ficará exposto na internet. Não é pouca coisa. Pense em quem teve um término de relacionamento conturbado e quer manter distância de namorados maniacos; ou em um adolescente que mudou de escola por causa de bullying e corre o risco de que tudo comece de novo se os novos colegas descobrirem isso; em quem sofre de assédio moral no trabalho ou foi testemunha de um crime; em quem não quer que os pais descubram detalhes de sua Vida sexual. Para todos eles, qualquer detalhe que o Facebook divulgue pode fazer uma grande diferença...
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Volto na Quarta-Feira !!!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pensando cada vez mais rápido

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Em 1995, o historiador Eric Hobsbawn, no seu livro Era dos Extremos, já criticava a tendência à superficialidade em um mundo atual tão repleto de informações. E, ao mesmo tempo, dava a receita para que as novas gerações pudessem religar suas vidas ao seu passado histórico.
A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores.
Pierre Bourdieu, sociólogo francês, já abordava um pouco antes de Hobsbawn o que nomeou de “fast-thinking”, nada mais, nada menos, que o processo ao qual um ser humano pretensamente normal (de acordo com os editores de jornais) tem de se acostumar vendo e ouvindo dezenas, ou centenas de novas notícias todo dia. Notícias descontextualizadas, e desconectas, com uma profundidade quase nula. Fatos cada vez mais superficiais, particularmente mostrados em TVs, para “facilitar” o entendimento daquele que é considerado o alvo da informação.

Já há estudiosos radicais que ligam ferramentas como o Google ou o Twitter a uma espécie de narcotização neurológica, a partir de uma sistemática distração do cérebro a partir de muita informação, com pouca densidade. Essas ferramentas, segundo Nicholas Carr, neutralizariam a capacidade de criação do ser humano fazendo com que deixemos “de ser cultivadores de conhecimento pessoal e a transformarmo-nos em caçadores e recolectores na floresta das informações eletrônicas”.

Não é difícil perceber certa verdade nessas afirmações para quem convive em escolas e faculdades, apenas como exemplo. Não é de forma alguma trabalhoso se conseguir uma série de exemplos de professores que tenham encontrado trabalhos copiados da Internet, em sua totalidade, por alunos, com base em pesquisas do Google e uma técnica conhecida como “copiar-colar”.

Aproveitando a citação do Google é importante notar que não é improvável também que neste momento uma nova espécie de Memória Integral já esteja sendo construída, a mercê dos indivíduos. E não se deve esquecer de que quando se fala em Google não é com referência a apenas a ferramenta de buscas gratuita, mas sim como empresa capitalista que tem como matéria prima e produto a informação. Esta possui uma infinidade de ferramentas: Busca de Textos, Mapas, GPS, Tradução, Hospedagem de Vídeos, servidor de e-mail, e tantas outras.

O Google Search, por exemplo, permite construir, a partir de dados compilados, perfis de consumo, a partir das pesquisas solicitadas diariamente por qualquer usuário. Os dados guardados não estão sob o controle de cada indivíduo a quem deveria “pertencer” as informações. Pedro Doria, em reportagem na Revista Galileu, deixa claro:
Na Googlelândia, a liberdade é plena, porém vigiada. A empresa registra tudo o que escrevem, o que fazem e o que compram os usuários. Mas o lema oficial da companhia é: “Não faça o mal”. De pronto, argumenta que, quando o sistema vasculha as mensagens do Gmail, por exemplo, é para oferecer a você as propagandas que mais possam interessá-lo.

domingo, 4 de julho de 2010

Sobre a Privacidade

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Vídeo de Thiago Magnus encontrado no Site do YouTube

Voltando um pouco a uma análise sobre os Totens Vigilantes, que estão sendo instalados na cidade de Salvador, é interessante deixar claro aqui em que se baseia o entendimento de privacidade de minha parte.

O jurista italiano Stefano Rodotà, já citado em um post por aqui, tem uma preocupação filosófica e ética, quando interroga se sobrará alguma dignidade a uma pessoa “tornada prisioneira de um passado que está todo nas mãos de outros”, quando critica o excessivo número de câmeras com suas lentes dirigidas aos cidadãos.

Neste sentido é interessante entender que as palavras de Rodotà fazem parte de um repertório discursivo determinado historicamente, no ocidente. A dignidade a que ele se refere é aquela refletida através do individualismo burguês, a partir de finais do Século XVII e princípios do Século XVIII.

Individualidade esta que se constrói a partir de elementos históricos concretos, como a diferenciação entre o público e o privado, por exemplo.

A postura moderna com relação a privacidade é mais uma proposição percebida a partir da história das mentalidades do que partindo-se de questões políticas ou sociais. Como, por exemplo, nas mudanças de atitude com relação ao corpo que vai se modificando no decorrer dos Séculos acima citados, conforme o historiador Philippe Ariès, na sua História da Vida Privada (Edt. Companhia das Letras):
Já não se trata de saber como um rapaz deve servir à mesa ou servir o patrão, e sim de estender ao redor do corpo um espaço preservado a fim de afastá-los de outros corpos, furtá-lo ao contato e ao olhar dos outros. Assim, as pessoas param de se abraçar, ou seja, de se jogar nos braços umas das outras, de beijar a mão, o pé, de se lançar 'de barriga no chão' perante uma dama que querem homenagear. Essas demonstrações veementes e patéticas são substituídas por gestos discretos e furtivos.
É esta mentalidade (direitos do cidadão, privacidade, individualismo) construída durante séculos que vai se dissipando com o uso incessante de dispositivos de vigilância.