domingo, 4 de julho de 2010

Sobre a Privacidade

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Vídeo de Thiago Magnus encontrado no Site do YouTube

Voltando um pouco a uma análise sobre os Totens Vigilantes, que estão sendo instalados na cidade de Salvador, é interessante deixar claro aqui em que se baseia o entendimento de privacidade de minha parte.

O jurista italiano Stefano Rodotà, já citado em um post por aqui, tem uma preocupação filosófica e ética, quando interroga se sobrará alguma dignidade a uma pessoa “tornada prisioneira de um passado que está todo nas mãos de outros”, quando critica o excessivo número de câmeras com suas lentes dirigidas aos cidadãos.

Neste sentido é interessante entender que as palavras de Rodotà fazem parte de um repertório discursivo determinado historicamente, no ocidente. A dignidade a que ele se refere é aquela refletida através do individualismo burguês, a partir de finais do Século XVII e princípios do Século XVIII.

Individualidade esta que se constrói a partir de elementos históricos concretos, como a diferenciação entre o público e o privado, por exemplo.

A postura moderna com relação a privacidade é mais uma proposição percebida a partir da história das mentalidades do que partindo-se de questões políticas ou sociais. Como, por exemplo, nas mudanças de atitude com relação ao corpo que vai se modificando no decorrer dos Séculos acima citados, conforme o historiador Philippe Ariès, na sua História da Vida Privada (Edt. Companhia das Letras):
Já não se trata de saber como um rapaz deve servir à mesa ou servir o patrão, e sim de estender ao redor do corpo um espaço preservado a fim de afastá-los de outros corpos, furtá-lo ao contato e ao olhar dos outros. Assim, as pessoas param de se abraçar, ou seja, de se jogar nos braços umas das outras, de beijar a mão, o pé, de se lançar 'de barriga no chão' perante uma dama que querem homenagear. Essas demonstrações veementes e patéticas são substituídas por gestos discretos e furtivos.
É esta mentalidade (direitos do cidadão, privacidade, individualismo) construída durante séculos que vai se dissipando com o uso incessante de dispositivos de vigilância.

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