quarta-feira, 31 de março de 2010

Na Onda do Big Brother

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Parece que o Big Brother está mesmo na moda. Ontem à noite terminamos de ver mais uma temporada do reality show mais famoso daqueles que colocam gente dentro de um local fechado, dezenas de câmeras e microfones, e haja vigilância, junto com uma determinada mistura de exibicionismo e voyeurismo.

Pena que nem todo mundo saiba de onde vem o termo Big Brother.

Nas postagens anteriores já falei aqui do autor do livro 1984, George Orwell. É dele a idéia de um Big Brother (Grande Irmão) que se encontra 24 horas por dia de olho em cada um dos habitantes da Inglaterra (no livro, denominada Oceania, junto com os Estados Unidos).

Foi com satisfação que vi na Internet e nas bancas as revistas Filosofia e Aventuras na História abordando justamente a obra de Orwell.

No artigo (capa da primeira revista) “Como Eles nos Controlam ?”, o Mestre em Filosofia Renato Bittencourt faz uma análise das obras de Orwell (1984) e de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo). A partir das teorias de Michel Foucault acerca da Sociedade Disciplinar ele percebe como em ambos os livros os autores conseguem sintetizar a idéia de que “a aspiração utópica pela estabilidade social corre o risco de se tornar uma distopia”.

Bittencourt também percebe como, por exemplo, duas sociedades com propostas diferenciadas com relação ao sexo têm no final das contas os mesmos objetivos com relação ao controle sobre os indivíduos. O sexo em 1984 é censurado, inibido, castrado:

O projeto do Partido era eliminar todo prazer no ato sexual. A pulsão sexual era perigosa para o Partido, que a utilizava em interesse próprio. Tal dispositivo é um grande mecanismo para a ampliação do grau de tensão psíquica da massa, que, impedida de gozar e satisfazer os seus desejos, reprime os seus instintos e se aliena das suas capacidades transformadoras, tornando-se infeliz e submissa diante da autoridade de uma ideologia política vazia, que usa palavras de ordem e da manipulação de informações para concretizar o seu poder totalitário.
Enquanto isso, na sociedade criada por Huxley as práticas sexuais são incentivadas pelo Estado. A liberalidade sexual neste caso ao invés de representar uma situação positiva para os indivíduos se torna mesmo uma armadilha. Junto com uma droga (também liberada pelo Estado) chamada Soma, a “liberdade” sexual torna-se uma ferramenta de alienação e controle da população.

Já na revista Aventuras na História de Abril de 2010 (já nas bancas) encontramos também uma outra análise do livro de Orwell no artigo "O Grande Irmão está te Vigiando", escrito por Álvaro Opperman.

Neste artigo o autor faz um pequeno resumo da história do livro 1984, além de uma biografia reduzida de Orwell.

Ao final do artigo o autor faz uma ligação entre os BIG-BROTHERS de Orwell e o de John de Mol (criador da idéia do famoso reality show). A relação entre autoritarismo e voyeurismo é debatida. John de Mol tenta explicar que “na obra de Orwell é o governo que observa tudo através das câmeras – ele fala de autoritarismo e não de voyeurismo, como é o nosso caso”. Contradizendo esta opinião, Opperman cita o historiador Johann Huizinga para quem “uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia”.

Isso nos faz lembrar das nossas conhecidíssimas ditaduras: Cuba e China, apenas como exemplo, quando até hoje uns deduram aos outros, e as prisões ainda ocorrem sem qualquer direito de defesa. Cuba até bem pouco tempo possuía um dos maiores e mais “brilhantes” esquemas de deduragem, os CDR (Centro de Defesa da Revolução) onde desde crianças os indivíduos eram treinados a identificar indícios de contestação ao regime, onde quer que fosse, nas suas escolas, e mesmo dentro de suas próprias casas.

Da mesma forma que Cuba levava seus “subversivos” aos paredões, nesses tempos de reality shows somos nós mesmos que temos o poder de levar aqueles que não nos agradam aos paredões midiáticos, conseguindo premiar tanto bastardos inglórios, quanto patricinhas legalmente loiras.

Volto a postar aqui novamente no Domingo.

domingo, 28 de março de 2010

Teletelas, Big Brothers e a Tecno-Democracia

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Trecho do Vídeo-Documentário acerca do livro 1984 escrito por George Orwell em 1948.
Produzido pela TLC, associada a Discovery.

Quem desejaria em sã consciência uma pequena “teletela” orwelliana em seu bolso, na figura de um celular de terceira geração ? Por que devemos aceitar tranquilamente que câmeras estejam a cada esquina direcionadas as nossas ações mais particulares ?

Alguns chamam a esta sensação de que todas estas questões nem precisam ser respondidas de naturalização de processos que na realidade são históricos, e têm uma origem, um objetivo. 

É preciso analisar onde está nos levando todo este processo de naturalização das tecnologias de controle e vigilância. Nortear-se através de uma ética humanista neste momento é mais do que necessário.

Na ditadura imposta pelo Ingsoc do livro de 1984 as pessoas não tinham muitas opções, nem qualquer direito a negar o que o Partido do Grande Irmão (Big Brother) desejava. Mas hoje ainda temos um pouco de possibilidades de resistir. E para isso é importante que entendamos um pouco o que é realmente o mundo em que vivemos.
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Primeiro de tudo percebermos que este é um mundo que tem história, onde alguns mandam, outros obedecem, e alguns ainda resistem. Mas isto não começou devido a uma ordem transcendental vinda do Cosmos. Como dizia o filósofo francês Michel Foucault:

a verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros...
Se o atual regime de verdade nos direciona a acreditar na inexorabilidade do poder tecnológico, então tentemos compreender este regime e façamos com que mude. É possível mesmo usar toda parafernalha de convergência existente para mudar a atual “política geral” de verdade, particularmente através de trabalhos colaborativos, de pesquisa, propaganda e ação, e desenvolver uma via democrática para a inteligência coletiva, termo criado por outro filósofo, Pierre Levy.

Entender que as técnicas não determinam nada sozinhas, como percebe o próprio Pierre Levy, já é um bom começo. É necessário que todos possam compreender que as técnicas resultam de contextualizações e subjetivações históricas definidas e nada é inexorável na história.

 Levy também sustenta que nunca poderemos ter respostas absolutas às questões do conhecimento coletivo. Mas, ao contrário, sempre podemos desejar um mundo melhor para todos e procurar outras razões que não as do lucro, e outras belezas que não a do espetáculo, em busca do que ele chama de Tecno-Democracia.

Mas isto não acontecerá, afirma Levy, “a menos que renunciemos previamente à idéia de uma tecnociência autônoma, regida por princípios diferentes daqueles que prevalecem em outras esferas da vida social”.

Quarta-Feira volto a postar.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Panóptico aqui e agora !!!

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É possível imaginarmos o que queria realmente Jeremy Bentham quando fez seus projetos do Panóptico ?

Consertar a humanidade ? Possibilitar aos presos uma redenção e retorno à sociedade ? Transformar alunos inquietos em Homens e Mulheres disciplinados ?

É bem provável que ele desejasse tudo isso. E muito mais.

Ele perdeu quase todo seu dinheiro (herança, salário, poupança) tentando construir edifícios (penitenciárias) que mostrassem à sociedade da época (final do Séc.XVIII) que ele estava certo. Que a partir da vigilância e do controle na medida certa o funcionamento de prisões, escolas, hospícios seria muito mais eficiente.

Podemos até entendê-lo como um antecessor de behavioristas como Pavlov ou B.F.Skinner. Em um dos seus textos sobre a vigilância nas escolas ele demonstra como acreditava de verdade na possibilidade de maior apredizado para alunos que perceberiam a vigilância e fariam o que tinha de ser feito na hora determinada: Estudar na hora de estudar, brincar na hora de brincar.

Em alguns dos vídeos reportagens que já postei aqui dá para ver como alunos respondem aos repórteres de forma a entendermos que a grande quantidade de câmeras nas escolas faz com que alunos inquietos se "acalmem", "melhorando" o ambiente escolar.

Então, é possível afirmar que Bentham estava certo ? Na sua ânsia racionalista ele percebeu que o ser humano tem de ser vigiado e controlado para que a sociedade consiga progredir ?

Vigilância, Controle, Motivação, Punição, Agrado, Disciplina... são estas as palavras chaves para uma sociedade melhor ?

Vocês podem até dar risadas... mas tive a idéia deste texto ontem a noite... depois de assistir a mais um "paredão" do BBB10...

Milhões de votos de observadores anônimos de uma espécie de Panóptico quase perfeito privilegiaram uma das participantes. Um dia antes a mesma participante havia descaradamente e deliberadamente montado um esquema para "sujar" a imagem da sua concorrente. Mas alguns dias antes a mesma participante dava o "colar de anjo" para a mesma que estava ali sendo ultrajada por suas palavras...

Ou seja, o Panóptico quase perfeito, desesperadamente desejado por Bentham há mais de 200 anos atrás, permite que milhões de pessoas vigiem e controlem pessoas que provavelmente nem inibem, nem reforçam sua melhores ou piores qualidades.

Um Panóptico que nem melhora, nem piora a sociedade... apenas sinaliza continuidades e descontinuidades.

Que apenas projeta a sombra da própria sociedade.

Aliás como qualquer Panóptico, infelizmente para os sonhos de Bentham.

Infelizmente também para nós que a cada dia que passa vemos mais Panópticos sendo construídos.

Domingo retorno por aqui.

domingo, 21 de março de 2010

Resenha sobre WEB 2.0: Participação e Vigilância na Era da Comunicação Distribuída

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O livro WEB 2.0: Participação e Vigilância na Era da Comunicação Distribuída é composto de uma coletânea de textos organizados por Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.

A idéia principal de Antoun ao produzir o livro foi poder disponibilizar ao público as pesquisas mais atuais a respeito do que ele chama de “transformações da participação na sociedade hiperconectada”. (página 7).

Os autores dos textos convidados por ele são o que pode se chamar da “nata” dos pesquisadores sobre ciberespaço no Brasil. Rogério da Costa, André Lemos, Alex Primo, entre outros, abordando temas como redes sociais, games, jornalismo participativo, interações nos fotologs, fantasias sexuais virtuais, etc.

O interesse sobre este livro porém se dá por dois textos particulares. Um deles é do próprio Antoun: Perspectiva histórica – De uma teia a outra: a explosão do comum e o surgimento da vigilância participativa.

O outro texto é de Fernanda Bruno, também professora da ECO-UFRJ: Monitoramento, classificação e controle nos dispositivos de vigilância digital.

No primeiro texto Antoun parte de um pequeno histórico sobre o nascimento da web, como contraposição às formas “antigas” de comunicação centralizadas. Mostra como um modelo hegemônico nas comunicações, com seu “caráter hipnóptico da emissão de mensagem com frequência intensa e amplamente distribuída” se casa com uma sonâmbula recepção, configurando “uma massa estúpida que reproduz a disposição que lhe foi sugerida nesse processo feito a base de redundância”. (página 12).

O nascimento da WEB viria para muita gente mudar esse estado de coisas. As redes sociais nascidas desde a Usenet seriam um dos exemplos da contraposição à comunicação centralizadora. “As redes sociais promovem comunidades de atividades ou interesse, em vez dos grupos de opinião da imprensa ou das massas de consumo da mídia irradiada”. (página 14).

Movimentos radicais vão tomando a web e a utilizando numa verdadeira netwar (guerra em rede). O movimento zapatista (1994), os Foruns Sociais Mundiais, e as manifestações anti-globalização (Seattle, Genova) são exemplos clássicos da “dinâmica da distribuição das informações e do s debates desenvolvidos pelos grupos de discussão” (página 16) nascidas nas páginas e sites da web.

Mas ele lembra também muita coisa que vai surgindo e que ele considera negativa: flame wars (guerras verbais), “os palhaços que fazem de tudo para aparecer, os ególatras qua acham que sabem mais do que ninguém sobre algo, os trogloditas (trolls) que gostam de ofender e humilhar os participantes das discussões dos grupos de interesse, as desfigurações (defacements) dos sites dos antisimpatizantes”. (página 18).

Mas as discursões do que se convencionou chamar de WEB 2.0 começam a partir do começo do novo século. E a pergunta que todos fazem é se a rede agora construído algo realmente democrático.

O autor ao final mostra como a WRB 2.0 se converteu em local propício para busca de dados: tanto dos indivíduos a procura de qualquer coisa, quanto de empresas, por exemplo, a procura do que os indivíduos estavam a procura.
Mas para ele este “fenômeno da vigilância de dados está longe de se confundir com a antiga vigilância panóptica”, mas não deixa claro esta posição.

Mesmo assim deixa claro que esta vigilância “participativa” decorre da existência de uma mina de dados onde agentes da rede trabalham sem cessar o seu fluxo com o intuito de achar regularidades ou padrões na multidão, transformando-os em perfis. (página 24).

Entendimento um pouco diferente de Fernanda Bruno. Ela vê nessa possibilidade de traçar perfis através da vigilância, dentre outras coisas (como monitorar, arquivar, classificar, conhecer, individualizar), a concretização de uma “cultura em que o controle social se dá menos por coerção e prescrição de valores do que por simulação e incitação a realização e a obtenção de resultados”. Isso tudo “de acordo com princípios de otimização dos impulsos benignos e minimização dos malignos”, segundo autora citada por ela, lembrando o retorno do behaviorismo. (página 178/179).

Quarta-Feira retorno com nova postagem.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Resistir é possível...

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Quem assistiu a série Galactica viu como os Cylons conseguem destruir quase totalmente a raça humana. Usam da rede (quase absoluta) de computadores que tinham os humanos para destruir todas as suas naves de guerra. Usam "virus" para vigiar e controlar os humanos, e depois rechaçá-los.

Só não contavam com o imprevisto, pois a nave chamada Galactica estava em manutenção e não tinha ligações com a tal rede absoluta.

Hoje há no mundo uma quantidade absurda de máquinas ligadas a nossa rede real, a Web (mais de 1 bilhão). E todas elas propensas a receber virus, trojans, adwares, worms, malwares e tantos outros "dispositivos" que servem também para controlar e vigiar tanto as máquinas, quanto os humanos que as usam.

Trojans, por exemplo, capazes de coletar senhas de bancos, são enviados por Hackers, Crackers, ou qualquer outros nomes que se deem a humanos que têm o simples objetivo de "rapar" seu/nosso dinheiro da conta do banco.

A Revista Galileu de Dezembro de 2009, na reportagem de capa "Crime Virtual: Saiba Como se Proteger", nos dá algumas dicas de como podemos ter um pouco mais de segurança e evitar que esses "Vigias" às escondidas não tenham tanta sorte conosco.

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Manual de Sobrevivência na Internet


  • Desligue à noite
A maioria dos casos de invasão de computadores e instalação de virus acontece à noite, durante a transferência de arquivos entre sistemas.

  • Não seja preguiçoso
Procure digitar no campo do endereço o site que você quer visitar. Por incrível que pareça, hackers conseguem criar URLs muito parecidas com as originais. Sem perceber, utilizando uma ferramenta de busca, você entra em um portal clone de um banco.

  • Atualize semanalmente
Tenha um antivirus. Gratuito ou pago, mas tenha. Fabio Assoline, analista da Karpersky Lab. afirma: "Ele é indispensável. É preciso atualização periódica. Um antivirus desatualizado só protege o PC de ameaças que ele conhece. Centenas de vulnerabilidades aparecem todos os dias.

  • Seja Egoísta
Cuidado com sua rede wireless. Mantenha-a protegida com softwares e senhas que não sejam óbvias.

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A Revista faz uma grande reportagem sobre o assunto, e de grande utilidade para nós, simples usuários da rede de computadores (Web, Internet, etc.).

Podemos fazer uma pequena crítica no momento que propõem a utilização de antivirus e outros softwares de proteção pertencentes a grandes corporações, que, provavelmente, também os usarão para manter uma "certa" vigilância sobre nossos computadores e vidas.

Mas é a velha história da escolha dos nossos "amigos". O Gato ou o Rato ? A Águia ou a Gralha ? Rs, Rs...

É fazer as escolhas conscientemente e tentar resistir a toda forma de controle possível.

Inté Domingo.

domingo, 14 de março de 2010

O Drama do Panóptico

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Fonte: http://bloglideranca.files.wordpress.com
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O Panóptico como já afirmei anteriormente surge devido ao desejo desenvolvido por Jeremy Bentham de conseguir uma resposta eficiente que produzisse um novo ordenamento, racional e jurídico, a uma sociedade que a cada dia que passava (Inglaterra dos anos finais do Sec. XVIII) tolerava menos os improdutivos, os vadios, os delinquentes.

Além do que o "Homem Racional", representação característica do Século das Luzes, não via mais com bons olhos os castigos "clássicos" (como podemos ler no capítulo introdutório de Vigiar e Punir de Michel Foucault).

Portanto era necessário estabelecer métodos e dispositivos que facilitassem o controle, por exemplo, sobre homens e mulheres presas em penitenciárias (cada dia mais lotadas e cheias de corrupção), sobre os loucos nos hospícios, ou sobre crianças e adolescentes nas escolas.

No livro já citado na postagem anterior, em texto complementar (posfácio da edição francesa de 1977), O Inspetor Bentham, a historiadora Michelle Perrot nos conduz a uma análise crítica do Panóptico, dispositivo considerado ideal por Bentham para vigilância e controle em espaços fechados.

Trago aqui parte deste texto para o deleite daqueles que por aqui navegam.

Boa leitura e Quarta-Feira volto a postar.

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O Panóptico exerce na vida e obra de Bentham um lugar considerável.

Durante vinte anos, a realização de tal projeto foi sua maior obsessão, uma espécie de idéia fixa que por vezes surpreendeu seus amigos e foi até tachada de loucura. Tornar-se diretor de um cárcere modelo, responsável por uma torre de controle, por um local de observação, foi sua maior ambição - por ela se arruinou.

É que o inspetor central encarnava, muito mais do que um guarda de prisão, a imagem mesma do poder, fundamentada numa grande convicção no poder da educação e da disciplina.

Para Bentham "se encontrarmos um meio de controlar tudo o que pode acontecer a um certo número de homens, de dispor de tudo o que os rodeia, de modo a causar neles a impressão que queremos produzir, de assegurarmo-nos de suas ações, de suas ligações, de todas as circunstâncias de sua vida, de maneira que nada possa escapar nem opor-se ao efeito desejado, não podemos duvidar que um meio dessa espécie será um instrumento muito enérgico e muito útil que os governos poderiam aplicar a diferentes objetivos da maior importância”.

Grandiosa abertura de toda uma literatura totalitáría, O Panóptico é um grande texto político, sobre o qual Michel Foucault assinalou a importância: não se poderia fazer melhor.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Panóptico nas Escolas

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Reportagem de 06 de Maio de 2009

A reportagem transmitida acima foi encontrada no YouTube, sem a informação de fonte (qual TV, qual Programa). Mas serve nesta postagem como complemento ao texto que segue.

O texto encontra-se no livro O Panóptico, com autoria de Jeremy Bentham (Edt. Autêntica).

Boa leitura e até domingo.

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Depois de aplicar o princípio da inspeção às prisões e, passando pelos hospícios, e chegar aos hospitais, suportará o sentimento dos pais que eu o aplique, finalmente, às escolas ?
Será a observação de sua eficácia na prevenção da aplicação irregular de rigor indevido até mesmo aos culpados suficiente para dissipar a apreensão relativamente à sua tendência a introduzir a tirania nas moradas da inocência e da juventude ?
Aplicado a esses locais, você o achará capaz de dois graus bastante distintos de extensão. Ele poderá estar confinado às horas de estudo; ou pode-se fazer com que ele preencha todo o ciclo diário, incluindo as horas de repouso, descanso e recreio.

Relativamente à primeira dessas aplicações, a timidez mais cautelosa dificilmente poderia imaginar, creio, qualquer objeção. Com respeito às horas de estudo não pode haver, creio, se não um único desejo, de que eles se apliquem ao estudo. Nem é preciso observar que grades, barras e ferrolhos, e toda característica que possa dar a uma casa de inspeção seu terrível aspecto, não têm nada a fazer aqui.

Toda brincadeira, toda conversa, em suma, toda distração de qualquer tipo, está efetivamente descartada pela situação central e protegida do mestre, secundado pelas partições de telas - tão discretas quanto se queira - entre os estudantes.
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Lembramos a todos que as cartas de Bentham foram escritas em 1787 e tornam-se famosas nos anos 70 do Século XX por influnciarem Michel Foucault resultando numa re-leitura do Panóptico.

domingo, 7 de março de 2010

Contra-Controle

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Mesmo sendo um autor que muitos educadores consideram arauto das Ditaduras Sul-Americanas, e do Ensino Tecnicista, Autoritário e Manipulador, gosto da leitura de B.F.Skinner quando o assunto é Controle. Em seus livros há inclusive capítulos e sub-capítulos com os títulos Controle e Contra-Controle.

Ele nos explica, por exemplo, dentro de um desses livros (Sobre o Behaviorismo, Edt.Cultrix), essa quase eterna condição de luta entre, metaforicamente falando, gatos e ratos, vigilantes e vigiados.

Para ele, neste ambiente conflituoso torna-se natural que muitos daqueles que se sentem controlados passem a agir.

"Escapam ao controlador – pondo-se fora de seu alcance, se for uma pessoa; desertando de um governo; apostasiando de uma religião; demitindo-se ou mandriano – ou então atacam a fim de enfraquecer ou destruir o poder controlador, como numa revolução, numa reforma, numa greve ou num protesto estudantil. Em outras palavras, eles se opõem ao controle com contra-controle".
Já havia citado, entre as postagens já feitas aqui, como Skinner percebia o risco que o uso de tecnologias de controle social (incluindo aqui as de vigilância e de manipulação de comportamento). Ele escreve o seguinte no mesmo livro já citado acima :

"Órgãos ou instituições organizados, tais como governos, religiões e sistemas econômicos e, em menor grau, educadores e psicoterapeutas, exercem um controle poderoso e muitas vezes molesto. Tal controle é exercido de maneiras que reforçam de forma muito eficaz aqueles que o exercem e, infelizmente, via de regra significa maneiras que são ou imediatamente adversativas para aqueles que sejam controlados ou os exploram a longo prazo".
Para ele, aquelas tecnologias (com seus primeiros passos dados em finais do século XIX) seriam utilizadas de uma maneira ou de outra, como o foram, por nazistas alemães e stalinistas soviéticos, para usufruto de grupos que estivessem no poder . O recomendável, nesse sentido, seria estudá-las, aprimorá-las e utilizá-las com prudência.

Nortear-nos através de críticas e abordagens como a de Skinner e por uma ética humanista neste momento é mais do que necessário, para perceber o quanto toda possibilidade de vigilância sem freios pode ser prejudicial para a Democracia, e até que ponto ela pode ser entendida como natural ou vantajosa dentro de nossa sociedade.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A Sociedade do Controle

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Seria inútil resistir à Sociedade do Controle ?

O Pesquisador da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, Luis Fernandez, faz uma análise em editorial na revista online Surveillance & Society sobre a atenção que este questionamento gera atualmente. Ele se apóia em artigo, encontrado em outra revista bastante conhecida no seu país, a Popular Mechanics, com o título “Quem está lhe seguindo ?”.

Segundo o pesquisador a revista responde: “Todo mundo, de sua companhia de celular a seu patrão, sua esposa e o governo”.

E ele segue analisando o artigo:

"Tentando descrever toda extensão do problema, o artigo indiscriminadamente mistura várias técnicas de vigilância, de métodos de observação no local de trabalho a incidentes envolvendo modernos Peeping Tons (situação relacionada a voyeurismo), rapidamente seguido pela descrição de corporações traçando todos os seus movimentos, através de sistemas de posicionamento móveis em celulares".

A mensagem foi simples: Você está suscetível à vigilância e deveria se proteger.

A Popular Mechanics então oferece formas individuais de defesa (fighting-back): reconhecer os cookies implantados nos browsers (Internet Explorer, Firefox, etc), ou até mesmo desligar os celulares, por exemplo.

Há sim maneiras de resistir e se proteger da vigilância digital, tenha ela a origem que tiver.

Aliás, como houve em toda a história da humanidade métodos de defesa contra estratégias autoritárias e opressoras.

Domingo volto a postar.