domingo, 21 de março de 2010

Resenha sobre WEB 2.0: Participação e Vigilância na Era da Comunicação Distribuída

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O livro WEB 2.0: Participação e Vigilância na Era da Comunicação Distribuída é composto de uma coletânea de textos organizados por Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.

A idéia principal de Antoun ao produzir o livro foi poder disponibilizar ao público as pesquisas mais atuais a respeito do que ele chama de “transformações da participação na sociedade hiperconectada”. (página 7).

Os autores dos textos convidados por ele são o que pode se chamar da “nata” dos pesquisadores sobre ciberespaço no Brasil. Rogério da Costa, André Lemos, Alex Primo, entre outros, abordando temas como redes sociais, games, jornalismo participativo, interações nos fotologs, fantasias sexuais virtuais, etc.

O interesse sobre este livro porém se dá por dois textos particulares. Um deles é do próprio Antoun: Perspectiva histórica – De uma teia a outra: a explosão do comum e o surgimento da vigilância participativa.

O outro texto é de Fernanda Bruno, também professora da ECO-UFRJ: Monitoramento, classificação e controle nos dispositivos de vigilância digital.

No primeiro texto Antoun parte de um pequeno histórico sobre o nascimento da web, como contraposição às formas “antigas” de comunicação centralizadas. Mostra como um modelo hegemônico nas comunicações, com seu “caráter hipnóptico da emissão de mensagem com frequência intensa e amplamente distribuída” se casa com uma sonâmbula recepção, configurando “uma massa estúpida que reproduz a disposição que lhe foi sugerida nesse processo feito a base de redundância”. (página 12).

O nascimento da WEB viria para muita gente mudar esse estado de coisas. As redes sociais nascidas desde a Usenet seriam um dos exemplos da contraposição à comunicação centralizadora. “As redes sociais promovem comunidades de atividades ou interesse, em vez dos grupos de opinião da imprensa ou das massas de consumo da mídia irradiada”. (página 14).

Movimentos radicais vão tomando a web e a utilizando numa verdadeira netwar (guerra em rede). O movimento zapatista (1994), os Foruns Sociais Mundiais, e as manifestações anti-globalização (Seattle, Genova) são exemplos clássicos da “dinâmica da distribuição das informações e do s debates desenvolvidos pelos grupos de discussão” (página 16) nascidas nas páginas e sites da web.

Mas ele lembra também muita coisa que vai surgindo e que ele considera negativa: flame wars (guerras verbais), “os palhaços que fazem de tudo para aparecer, os ególatras qua acham que sabem mais do que ninguém sobre algo, os trogloditas (trolls) que gostam de ofender e humilhar os participantes das discussões dos grupos de interesse, as desfigurações (defacements) dos sites dos antisimpatizantes”. (página 18).

Mas as discursões do que se convencionou chamar de WEB 2.0 começam a partir do começo do novo século. E a pergunta que todos fazem é se a rede agora construído algo realmente democrático.

O autor ao final mostra como a WRB 2.0 se converteu em local propício para busca de dados: tanto dos indivíduos a procura de qualquer coisa, quanto de empresas, por exemplo, a procura do que os indivíduos estavam a procura.
Mas para ele este “fenômeno da vigilância de dados está longe de se confundir com a antiga vigilância panóptica”, mas não deixa claro esta posição.

Mesmo assim deixa claro que esta vigilância “participativa” decorre da existência de uma mina de dados onde agentes da rede trabalham sem cessar o seu fluxo com o intuito de achar regularidades ou padrões na multidão, transformando-os em perfis. (página 24).

Entendimento um pouco diferente de Fernanda Bruno. Ela vê nessa possibilidade de traçar perfis através da vigilância, dentre outras coisas (como monitorar, arquivar, classificar, conhecer, individualizar), a concretização de uma “cultura em que o controle social se dá menos por coerção e prescrição de valores do que por simulação e incitação a realização e a obtenção de resultados”. Isso tudo “de acordo com princípios de otimização dos impulsos benignos e minimização dos malignos”, segundo autora citada por ela, lembrando o retorno do behaviorismo. (página 178/179).

Quarta-Feira retorno com nova postagem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Michel FOUCAULT:

“Uma coisa em todo caso é certa: é que o homem não é o mais velho problema nem o mais constante que se tenha colocado ao saber humano...

O homem é uma invenção cuja recente data a arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo.

Se estas disposições viessem a desaparecer tal como apareceram, ... então se pode apostar que o homem se desvaneceria, como, na orla do mar, um rosto na areia.”

in: As palavras e as coisas, de michel foucault