quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Justificando um Vídeo-Documentário

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Desde filmes como Nannok, o Esquimó, em 1922, de Robert Flaherty, ou The Drifters, de John Grierson, em 1929, que o cinema documentário adquire a característica de “filme ideológico”, isto é, filme com propósitos sociais e políticos.

Quando se propõe aqui a criação de um vídeo-documentário sobre Vigilância e Controle Social é justamente na perspectiva de dar continuidade a aquelas propostas. Propostas potencializadas pelo surgimento de novas tecnologias, criando novas possibilidades de convergência entre o vídeo e a internet, por exemplo.

Constrói-se assim uma ferramenta interativa e cooperativa, que auxilie no desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais democrática, com o conhecimento sendo compartilhado de forma mais igualitária.

Neste sentido recorre-se a Umberto Eco (Como se faz uma Tese, Edt. Perspectiva, 1995) para justificar a escolha por um suporte e um conteúdo que tenham a ver com os desejos e necessidades pessoais do pesquisador. Ou seja, qualquer que seja o tema de uma pesquisa, ela deverá responder aos interesses e atitudes religiosas, políticas e culturais do pesquisador.

Mas além do interesse pessoal há outras motivações.

Não necessariamente em ordem crescente de importância: relevância, originalidade e viabilidade.

A ideia de relevância surge na própria conotação jornalística da pesquisa e do futuro produto. Não é difícil se compreender a importância de estarmos analisando um tema que quase diariamente está em contato com nossas vidas, mesmo que não percebamos (como se conclui a partir das respostas a questionário citado em postagem anterior). E estudando o tema estaremos nos permitindo compreender suas vantagens e desvantagens, possibilitando nos defender de eventuais (talvez não tão eventuais assim) desvios de intenções.

Foi efetuada uma pesquisa de similares e não se encontrou qualquer produto que tivesse tanto o conteúdo quanto o suporte semelhante ao que se deseja construir. Isso confirma a originalidade do produto, outro motivo para sua criação.

Já existem revistas online (em inglês) debatendo a questão da vigilância e suas conseqüências. Existem vídeos discutindo outros temas e dentro deles a vigilância, transversalmente. Mas nenhum vídeo-documentário com o tema escolhido. Quanto a construção de um blog traçando o desenvolvimento de um vídeo foi encontrado apenas um similar.

Também deverá ser um trabalho viável. Tanto com relação ao tempo disponível para a pesquisa, quanto pela acessibilidade de fontes, e implantação dos suportes (vídeo e blog).

Viabilidade também econômica. O blog está agora hospedado em local gratuito. O vídeo-documentário terá como custos uma ou outra viagem que será efetuada para gravação de entrevistas com especialistas que trabalhem com o tema escolhido. Outros custos materiais serão irrisórios. Sua publicação se dará em site também gratuito, como YouTube, ou Vimeo.

Domingo que vem estarei de volta.

domingo, 25 de outubro de 2009

A Metáfora do Panóptico

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No nosso dia a dia podemos perceber a vigilância em diversas instâncias. No trabalho, no hospital, no aeroporto, comprando alguma buginganga na Internet... e na escola.

Em reportagem do Jornal Hoje, da Rede Globo, em 20 de Agosto desse ano, podemos verificar o debate provocado dentro de uma escola (e fora dela) quando se dá visibilidade aos dispositivos de vigilância. Neste caso, os dispositivos são as câmeras para filmar as aulas e os diversos dados disponibilizados aos pais dos alunos, online, para que no mesmo dia aqueles possam saber como foi o dia dos seus filhos.

Assistam a reportagem.
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E ai ?

Que perguntas devem ser feitas em um momento desses ? E se fizéssemos as perguntas que seguem abaixo ?
Será que o espírito liberal e a energia do cidadão livre não seriam substituídos pela disciplina mecânica de um soldado ou a austeridade de um monge ? E não será que o resultado desse sofisticado dispositivo não será o de produzir um conjunto de máquinas sob a aparência de homens ?. *
Pois estes foram apenas alguns dos questionamentos que fez Jeremy Bentham, em 1787, ao discutir sobre a implantação do panóptico não só nas penitenciárias (Casa de Inspeção), mas também nas escolas.

Mas para ele, mesmo com todas aquelas considerações, era sim aplicável
sem exceção, a todos e quaisquer estabelecimentos, nos quais, num espaço não demasiadamente grande para que possa ser controlado ou dirigido a partir de edifícios, queira-se manter sob inspeção um certo número de pessoas. *
Teríamos na vigilância dentro das escolas, então, uma metáfora ao panóptico de Bentham.

Seria assim possível se perceber uma semelhança entre o velho dispositivo arquitetônico e os dispositivos disponíveis hoje através de novas e não tão novas tecnologias. O edifício central de onde se visualizaria todos os movimentos daqueles que se desejaria vigiar pode ser comparado, de uma maneira metafórica, com as câmeras espalhadas pela escola da reportagem.

Discussões explodem, em diversas ordens, quando o assunto é Controle. E quando se discute Vigilância, de uma forma ou de outra, se discute também Controle. E a partir dai surgem questões éticas, políticas, e de uma forma geral, questões vitais para se debater o futuro da democracia.

Quarta-Feira volto para novas análises.

Enquanto isso espero que aqueles que por aqui navegam possam fazer suas críticas ou complementar o trabalho de pesquisa que por aqui vou deixando.

* As citações de Bentham encontram-se no livro O Panóptico, da Editora Autêntica

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Questões sobre a Vigilância

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Para me acercar da demanda por conhecimento sobre o tema Vigilância e Controle Social construi um questionário online a partir do link da empresa Paxonta (www.paxonta.com).

O método de amostragem escolhido foi por acessibilidade ou por conveniência, onde se seleciona os elementos a que se tem acesso admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo total pesquisado.

Até o dia 19 de Outubro, 67 pessoas já haviam respondido ao questionário.

A figura abaixo mostra a escolaridade daqueles que responderam ao mesmo.


As quatro primeiras questões são para conhecimento do indivíduo. Idade, escolaridade, profissão. A partir da quinta questão as perguntas tomam um rumo específico com referência ao tema pesquisado.


Esta não foi uma pesquisa de cunho quantitativo, mas não deixa de ser uma notícia interessante perceber que a maioria dos que responderam ao questionário se sentem vigiados, de alguma forma.

E esta forma de vigilância foi questionada também:


Os "campeões" da vigilância seriam os locais de trabalho e de compras (sejam compras físicas ou online).

Neste aspecto deixei uma questão subjetiva para resposta: Algum ou vários tipos de dispositivos de vigilância em especial ?

E algumas das respostas a aquela questão subjetiva foram também bastante interessantes. Deixo duas delas aqui na íntegra.

a - Os itens que destaco no trabalho são: 1- Registrador de velocidade com identificação do condutor nos veículos utilizados; 2- Computador utilizado na empresa (Bloqueios automáticos à determinadas páginas da internet, rastreamento das páginas que visitamos com tempo de acesso e possibilidade da empresa acessar os conteúdos armazenados na máquina). Fora do trabalho: 1- Câmeras de segurança (instaladas no prédio onde moro e em locais públicos), 2- Computador (com utilização da internet).

b - Não me sinto vigiada mas acredito que, quando instituições governamentais ou não governamentais tem algum tipo de interesse em vigiar alguém isso pode ser feito de várias maneiras, por exêmplo, o GPS do celular informa exatamente onde se encontra a pessoa vigiada, o PC armazena informações que vão de localização(eu acho) até informações variadas de envio e recepção de informãções, sites consultados e quais serviços foram utilizados, isso pode ser facilmente vigiado e ou rastreado por especialistas em Tecnologia da Informação pois, a tendência comum é de se apagar/deletar/excluir tudo aquilo que julgamos desnecessário ou que não queremos expor, mas não lembramos que tudo que \"jogamos fora\" fica \"escondido\" em algum lugar do PC que é inatingível para um leigo mas de fácil acesso para quem sabe procurar e está a serviço de quem quer saber, esses dois simples ícones da evolução podem fazer muito mais do que sonha a nossa vâ filosofia.

E, para me amparar das características deste tema das quais as pessoas mais sentem necessidade de entender, fiz a seguinte questão:


O interesse por um Site na Internet sobre o tema Vigilância e Controle Social é questionado ao final, tendo até o momento um bom resultado com 60% das pessoas que responderam acenando como futuros "navegadores" daquele Site (espero que eles de fato estejam por aqui acompanhando este blog).

Este questionário agregou diversas informações úteis ao andamento da pesquisa que estou desenvolvendo. E espero que tenha sido interessante também para aqueles que estão navegando por este blog.

Acho que por hoje é só. Comentem, por favor.

E até Domingo.

domingo, 18 de outubro de 2009

O Panóptico

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Foto: peramblogando.blogspot.com

No final do Séc. XVIII o filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham concebeu pela primeira vez a ideia do panóptico. Para isto Bentham estudou “racionalmente”, em suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de prisão circular, onde um observador poderia ver todos os locais onde houvesse presos. Eis o panóptico.

Ele também observou que este mesmo projeto de prisão poderia ser utilizado em escolas e no trabalho, como meio de tornar mais eficiente o funcionamento daqueles locais.

Foi naquele período da história que, segundo o francês Michel Foucault, iniciou-se um processo de disseminação sistemática de dispositivos disciplinares, a exemplo do panóptico. Um conjunto de dispositivos que permitiria uma vigilância e um controle social cada vez mais eficientes, porém, não necessariamente com os mesmos objetivos “racionais” desejados por Bentham e muitos de seus antecessores e contemporâneos .

Dos anos 60, do Séc. XX, quando Foucault escreveu suas primeiras obras, até o início do Séc. XXI, novas tecnologias de comunicação e informação surgiram, permitindo novas formas de vigilância que por vezes se tornam tão dissimuladas que não são facilmente percebidas pelos indivíduos. Tornam-se também naturalizadas, não deixando claros todos os objetivos de quem se utiliza daquelas novas técnicas de vigilância.

Nestes novos tempos a vigilância também vem adquirir uma nova característica. A possibilidade de observação de todos sobre todos. Hoje é possível ao patrão ler mensagens de correio eletrônico de seu empregado, mas também existe a possibilidade de colegas lerem mensagens de colegas, maridos de esposas, pais de filhos, a partir de ferramentas gratuitas disponíveis na Internet, por exemplo.

Empresas conseguem, a partir de celulares, monitorar o local onde se encontram seus empregados. Governos e crackers podem, com o instrumental adequado, ter as informações bancárias de qualquer cidadão, a partir de banco de dados individuais (como aqueles referentes a antiga CPMF, por exemplo) e câmeras digitais vigiam cada metro quadrado de aeroportos.

O panóptico se disseminou. E como afirmou enfaticamente em meados dos anos 90 outro filósofo francês, Giles Deleuze, isso gerou a criação de uma Sociedade de Controle.

É a partir deste quadro que se considera interessante a existência de um veículo de comunicação que dê visibilidade ao tema Vigilância e Controle Social. A partir de uma mídia que ajude a suprir a demanda de conhecimento sobre aquele tema.

Dessa forma a criação de um novo veículo de comunicação teria os objetivos de difundir, debater, e ampliar uma discussão sobre o tema que permita às pessoas a compreensão sobre o funcionamento dos dispositivos disciplinares e da Sociedade de Controle.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um Pequeno Histórico

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Quando cheguei no Curso de Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática da Faculdade Social da Bahia (FSBA), imaginava elaborar uma monografia sobre algum tema que se referisse a Jornalismo Alternativo.

Na graduação em Jornalismo, na Faculdade da Cidade de Salvador (FCS), eu já havia desenvolvido com minha colega Eliene Nunes um TCC sobre o jornal "nanico" O Inimigo do Rei (um dos exemplos de jornal alternativo durante o período dos governos militares). Resolvemos criar um vídeo-documentário, mas transversalmente também fomos construindo outras mídias (blog, livro, seminário) que dariam visibilidade ao jornal que existiu durante 11 anos (1977 a 1988).

O resultado do TCC pode ser visto no vídeo a seguir (1ª Parte).



A partir da disciplina Novas Tecnologias, já dentro da grade curricular do curso de especialização, comecei uma nova pesquisa sobre Jornalismo Alternativo na Internet. Foi ai que tive o primeiro contato com a Rede Social Ciberativismo. Dentro dela acontecia um debate sobre o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). A lei estabeleceria um novo enquadramento aos crimes da Internet, em instância maior poderia servir de legalização de vigilância dentro da WEB.

A partir das informações encontradas ali naquela rede social fui a luta e encontrei uma quantidade razoável de material teórico sobre o tema da vigilância.

Teóricos como Michel Foucault e Giles Deleuze, por exemplo, já estabeleciam teses sobre o tema mesmo antes das novas tecnologias de comunicação darem o grande salto em meados dos anos 90.

A partir daí comecei a questionar colegas, amigos e parentes a respeito de como viam a vigilância (e mais particularmente aquela ligada às novas tecnologias eletrônicas) em suas vidas.

Muita gente desconhecia completamente como se dava a vigilância na sociedade moderna. E outro tanto de gente que percebia estar sendo observado, não tinha uma idéia muito clara do porquê, nem de quem estaria vigiando.

Desta observação veio a idéia de dar visibilidade ao tema vigilância através de um Vídeo-Documentário (em moldes parecidos com o que produzi na graduação). Em paralelo, estaria também analisando como acontece uma espécie de contraposição a tal vigilância, a partir do que se pode chamar de "novo" jornalismo alternativo dentro das redes telemáticas.

É sobre a construção desse Vídeo-Documentário que pretendo falar aqui durante o decorrer do curso, passando do pré-projeto ao projeto experimental propriamente dito, chegando ao desenvolvimento de um produto que possa estabelecer uma interação entre os conhecimentos que vêm sendo criados tanto no Brasil, quanto no exterior, sobre a questão da Vigilância e a vida das pessoas.

A idéia inicial é que o futuro Vídeo terá um aspecto mais "jornalístico", analítico e interpretativo, do que "científico". E, na medida do possível, serão estabelecidas aqui neste espaço as sementes para tal.

Por hoje é só. Devo manter as atualizações nas Quartas-Feiras e nos Domingos.

domingo, 11 de outubro de 2009

Novas Propostas !!!

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Olá,

Para aqueles que já me conhecem de outras bandas é um prazer revê-los...

Para aqueles que nunca me encontraram em qualquer lugar desse mundo é um prazer conhecê-los...

Estou aqui agora para lançar mais uma proposta de blog.

Dessa vez o objetivo é dar visibilidade à pesquisa que estou desenvolvendo em curso de Especialização na Faculdade Social da Bahia. Este blog terá também o objetivo mais específico de ser a semente de um Vídeo-Documentário que terá como tema central a Vigilância e Controle Social, o mesmo da pesquisa, que será ao final das contas o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Inicialmente penso em deixar aqui todo um rastro da pesquisa, sejam trabalhos e artigos elaborados dentro de cada uma das disciplinas estudadas, sejam fontes de pesquisa como sites e outros blogs, ou entrevistas efetuadas com especialistas na área, e até mesmo qualquer tipo de colaboração positiva que possa acrescentar conhecimento, vinda através dos comentários, abertos livremente aqui mesmo, ou por e-mail.

Lembro, para ratificar esse meu desejo/necessidade de colaboração, e de construção coletiva do conhecimento, a afirmação de Vani Moreira Kenski: "Para a transformação das informações em conhecimentos é preciso um trabalho processual de interação, reflexão, discussão, crítica e ponderações que é mais facilmente conduzido quando partilhado com outras pessoas".

Acho que é isso, por enquanto... sejam bem vindos.