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Há alguns posts atrás algum de nossos visitantes comentou sobre o livro Discurso da Servidão Voluntária, de Étienne de La Boétie. Pedi a um dos nossos mais assíduos colaboradores (comentando em nossas postagens) que fizesse uma resenha sobre o livro, e ele aceitou a sugestão. Hoje trazemos aqui essa colaboração feita com exclusividade para este blog.
Vejam ai. E até a Quarta-Feira que vem.
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Os séculos XV e XVI são marcados pela expansão territorial; novas fronteiras são abertas e surgem novos ‘povos’ com perfis civilizatórios que colocam em xeque o modo de vida do mundo dito conhecido.
O mundo ocidental e a sua busca incansável pela autoridade referendada sempre no UM; seja ele o deus monoteista na religião, seja o estado absolutista na ciência política e/ ou a escritura como a única verdade crível no mundo do conhecimento (só vale o que está escrito, seja na lei secular, na fé ou na ciência).
Indo um pouco mais além, podemos afirmar que esses ‘mundos’ ao entreolharem-se se declararam – logo de imediato – como inconciliáveis e antagônicos nos seus desenvolvimentos civilizatórios...
Nesse instante o choque civilizatório se fez presente e perdurou pela opressão dos mercadores de especiarias (temperos aromáticos), sedas, chás, alucinógenos, metais e cristais preciosos etc.
Visto que a autoridade – tão querida aos ocidentais – não se permitia ao luxo do convívio com a liberdade sem adjetivações; fortalecendo, por isso, a ingerência protetora da lei, da fé e ou da ciência nas relações societárias.
Étienne de La Boétie (1º. de novembro de 1530 — 18 de agosto de 1563) escreve, entre os 16 ou 18 anos, seu panfleto/ ensaio sobre o ‘discurso da servidão voluntária’.
E nele tenta encontrar respostas para a questão da submissão a que o homem ocidental se submetia cega e voluntariamente, e que dessa submissão retirava para si prazeres e regozijos como súditos do rei, da lei e de deus.
Como nos esclarece La Boétie:
“Da razão que nasce conosco ou não, o que é uma questão debatida a fundo pelos acadêmicos e abordada por toda a escola dos filósofos, por ora não pensaria falhar ao dizer o seguinte:
há em nossa alma alguma semente natural de razão que, mantida por bom conselho e costume, floresce em virtude e, ao contrário, freqüentemente sufocada, aborta, não podendo enfrentar os vícios sobrevindos.”
Faz-se necessário, portanto, interrogarmos por que se aceitar prestimosamente a dominação do UM (deus, rei e/ ou a lei) contra todos (indivíduo ou coletivo)?
Visto que, nas palavras de La Boétie,
"É natural no homem o ser livre e o querer sê-lo; mas está igualmente na sua natureza ficar com certos hábitos que a educação lhe dá"
Isso se dá, portanto, através da negação/ servidão do indivíduo pela educação que lhe é imposta, que passa a comungar, idolatrar e referendar a concentração do poder político e, também, o financeiro nas mãos de alguns poucos.
E esses poucos beneficiários do poder concentrado tomam para si, como uso restrito, a função tecnológica de governamentalidade, isso através da normalização das relações de poder entre a autoridade constituída e a sociedade, e desta consigo mesma:
organizar, administrar e, portanto, dominar – disciplinar e controlar – a sociedade; perpetuando esta forma de exploração ad infinitum.
É premente que tentemos, como afirma o cientista político Edson Passetti (PUC - São Paulo), “...compreender o mal imanente à autoridade e recuperar a confiança na liberdade.”
Liberdade esta sem os adjetivos limitadores de sua expressão máxima, como nos indica o pensamento político do jovem estudante francês, La Boétie:
"Decidi-vos a não servir mais, e serei livres."
2 comentários:
Salut Compas!
Muito bom o blog!
Provos Brasil
Como em Esparta, só à classe governante é permitido portar armas, só ela tem direitos políticos ou de outra espécie, só ela recebe educação, isto é, um adestramento especial na arte de manter em submissão suas ovelhas humanas, ou seu gado humano. Karl Popper
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