Em meados do Século XVII o filósofo Thomas Hobbes escreve O Leviatã. Ali ele deixa clara a necessidade de um controle sobre os indivíduos por uma organização para que a “civilização” possa continuar viva. O Leviatã, monstro bíblico, que atormentava os navegantes, se transforma na organização que obriga todos a cumprirem um contrato social: O Estado.
Assim o soberano controlará os indivíduos para que não ajam além de suas possibilidades, acima do que, no final das contas, o próprio Estado considere incorreto, ilegal, imoral.
Em finais do Século XVIII, o anarquista William Godwin lamentava e alertava sobre a forma como o Estado estava cada vez mais se acercando da educação dos indivíduos. Obviamente, fazendo-os acreditar nas mesmas visões e ideias daqueles que constituiam e comandavam o Estado. Uniformizando cada vez mais o que se consideraria incorreto, ilegal e imoral.
O Soberano, que detinha o poder do Estado, manipulava, obrigava, torturava, e assassinava, em nome de um Contrato Social. Este Contrato foi com o tempo se transformando. E, com um poder sempre crescendo, o Estado saia da coerção, para a cooptação.
Um exemplo bem claro disso é a mudança de compreensão com relação às lutas do trabalhador. O que antes era considerado caso de polícia, como as greves dos primeiros anos do Século XX, no Brasil, se transforma em fortalecimento do colaboracionismo entre classes a partir da Revolução de 30, de Getúlio Vargas.
Vargas, e seu séquito, criam uma legislação que enfraquece os sindicatos autônomos, a partir da ideia dos Sindicatos Únicos, ligados ao Ministério do Trabalho, convergindo para uma verdadeira domesticação dos trabalhadores. Os poucos que se opuseram a esta operação de fortalecimento do controle estatal sobre os sindicatos, anarquistas entre eles, foram, pouco a pouco, reprimidos, presos ou deportados, no caso dos estrangeiros.
É claro, não nos esqueçamos, que este tipo de paz, onde o Estado consegue manter cada um em seu “verdadeiro” lugar na pirâmide de classes, funciona com a necessidade de ações violentas de tempos em tempos. A disciplina social é conseguida através de domesticação ideológica, ou de uma vigilância sistemática, mas quando necessário os tanques podem ir às ruas. E as prisões podem se encher mais ainda.
Mas alguns indícios de que é cada vez menos necessário o investimento em violência, para manter os indivíduos quietos, estão no ar.
Acho que são aqueles indícios que fizeram com que Gilles Deleuze entendesse que estávamos entrando nos anos 90 no que ele chamou de Sociedade de Controle. Nessa sociedade o controle é tão profundo, desde as raízes das movimentações sociais até a macro-economia, por exemplo, que mesmo aparentemente vivendo em um mundo repleto de opções estaríamos mesmo num fluxo tão veloz e direcionado que quase não temos chance de sair desse fluxo, se desejássemos isso.
“Que músicas chatas, professor”, foi o clamor geral dentro de uma sala de aula no ano de 2003, quando eu apresentei, aos jovens estudantes da Escola Estadual Georgina Ramos, no bairro da Boca do Rio, em Salvador, as músicas e letras de muitos compositores criadas durante a luta contra a Ditadura implantada pelo militares em 1964: Caetano Veloso, Chico Buarque, Geraldo Vandré...
É isso. Mesmo músicas como as de Titãs, Plebe Rude, dentre outras também gravadas em um CD que levei para a sala não foram muito bem recebidas. Semana passada o repórter do Programa Profissão Repórter perguntou a uma menininha, filha de umas das personagens da ocupação de um prédio no centro da cidade de São Paulo, sobre os cantores que ela gostava, e ela respondeu sem demora: Justin Bieber e Luan Santana...
Esta semana que passou muita gente congratulava a ocupação militar do Morro do Alemão. Poucas ou nenhuma voz de oposição. É tempo de controle a partir da necessidade da segurança, para nossa própria proteção.
Indícios, apenas, da existência da Sociedade de Controle.
E nada melhor que um pouco de Plebe Rude para matar a saudade dos anos 80. Anos perdidos no tempo.
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12 comentários:
Rapaz,
Ótima referência prá gente repensar o tipo de vida que a gente quer prá nosso futuro e de nossos filhos. Plebe Rude poderia começar tocando toda noite no início do Jornal Nacional. E, antes do Jornal da Noite, um pouco de Ira, e de Camisa de Venus. Hmmmm.
[ ],s
meu velho,
nem só de CIRCO vive o homem, há que se pensar no PÃO que deve ser repartido entre todos...
E nem de circo e pão vive o homem. Senão é maniqueísmo puro. Então vamos lá: teatro, cinema, rádio, tv, pimenta, maracujá. ecétera. kkkk. E toda a alienação que produzem juntos.
ass.: eros de jauá
Destruí-lo, ou se utilizar dele.
Eis uma questão secular, para que todos reflitam. O Leviatã Perfeito é o grande Estado que tudo planeja, tudo sabe e tudo vê? Ou é o Estado Mínimo (ou morto) como desejava o criador de "Desobediência Civil", Henry Thoreau? Ou ainda os meios termos que pululam por ai, como o Welfare State europeu?
bjs, bia
estado mínimo e/ou estado do bem-estar são variações do mesmo tema:
"limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo".
max stirner
portanto, como já dizia o sábio javanês, mudam-se as moscas, mas a olência continua sendo o mesma...
Né não, seu max.
Mínimo é mínimo, welfare é welfare.
A não ser que se viva em outro mundo. Quem viveu algum tempo na Europa do Bem-Estar como eu, jamais trocaria aquela vida por um Estado Mínimo (Estado desejado por Anarco-Capitalistas). Mesmo sabendo que o Estado do Bem-Estar não era perfeito, igualar os dois é uma falácia.
bjs, bia francesa
"Algo deve mudar para que tudo continue como está".
Giuseppe Tomaso di Lampedusa (1896 ~ 1957), in Il Gattopardo
a falácia estar em tentar fazer acreditar na ‘transmutação’ do Estado; Estado este coercitivo pela sua própria natureza, seja pelo 'controle' via força da lei moral e/ ou pela 'punição' através do poder da força física.
portanto, o que vemos são adjetivações que se exercitam através da tentativa frustrada de modificação da sua essência substântiva por qualificações pontuais e transitórias: welfare or minimal state.
HA, HA, HA.
OLHA SÓ, PIERRE PAPAI NOEL PROUDHON, VOU MANDAR VOCÊ MORAR UNS MESES LÁ NA CORÉIA DO NORTE PARA O SENHOR DESCOBRIR NA PRÁTICA QUE EXISTE SIM DIFERENÇA ENTRE ESTADOS.
VOU TER A SATISFAÇÃO DE PAGAR-LHE AS PASSAGENS, EM UMA EMPRESA DE AVIAÇÃO CUBANA.
UMA CERTEZA EU TENHO. BAKUNIN NÃO VAI QUERER IR JUNTO.
ADJETIVAÇÕES? BAH!!!
O PIOR CEGO...
BJS, BIA
Mikhail Bakunin:
"Quem diz Estado, diz necessariamente dominação e, em conseqüência, escravidão; um Estado sem escravidão, declarada ou disfarçada, é inconcebível; eis por que somos inimigos do Estado.
(...) Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável:
o governo da imensa maioria das massas populares por uma minoria privilegiada.
Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários.
Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
AH. SANTO BAKUNIN FALOU ISSO ENTÃO EU ACREDITO. O QUE É INACREDITÁVEL É A RELIGIOSIDADE ANARQUISTA EM PLENO SÉCULO XXI. PARADIGMAS SECULARES, FÉ NOS SANTOS E IDOLATRIA AOS DEUSES NOVOS E ANTIGOS.
BJX, REGI
vocês (regi, bia, eros de jauá e [],s) estão querendo re-inventar a roda???
HA, HA, HA... PERDENDO A CALMA, NOBRE BAKUNIN BAIANO?
A RODA, PELAS SUAS TEORIAS TAMBÉM DEVE TER SIDO INVENTADA POR ANARQUISTAS, JÁ QUE É PERFEITA. OU TALVEZ SEJA DEUS UM ANARQUISTA, TENDO EM VISTA QUE É A PERFEIÇÃO ABSOLUTA? HA, HA, HA.
MUITA CALMA NESSA HORA.
BIA
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