Na postagem anterior falamos de Edson Passetti com o qual marcamos uma entrevista para outubro próximo.
Passetti é Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Professor Assistente-Doutor do Departamento de Política da PUC-SP e Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
Escreveu o livro Anarquismos e Sociedade de Controle, do qual retiramos alguns trechos, e transcrevemos abaixo.
*****
Na sociedade de controle o que poderia parecer diferente é semelhante, o avesso é cópia, a contundência é a conformidade na formalização. Assim, transitam trabalhadores eletrônicos de software e desempregados atendidos pelos efeitos da riqueza acumulada em serviços ou filantropias; faz-se aqui uma imitação do que se viu ali; a proliferação da contundência fashion de roupas, músicas, artes e estilos conforma-se ao elogio a uma existência múltipla, transitiva, efêmera que se torna incapaz de romper a programática, de irromper inventiva. Há múltiplas possibilidades de contestar para obter acesso à ordem. Trafega-se da contundência radical ao conformismo, mais de uma vez, por existência camaleônica. As cidades comportam seus centros descentralizados de produtividade, seus campos de confinamento e dormitórios, seus excessos populacionais, criminalidades em ascensão denunciadas pelas estatísticas sobre crescimento de violências e busca de qualidade de vida. As opções estão marcadas, para viver, trabalhar e viajar. Habitam, segundo os recursos materiais, condomínios fora das cidades (uma mesma periferia que aqui recebe um novo nome, que aparta e submete); pretendem acabar com epidemias originadas da insalubridade e que atravessam os cidadãos abarcando programas de saneamento em favelas, contando com a colaboração dos favelados — uma das formas de integrar o que aparta e submete.
....
Resistir é um verbo que na sociedade de controle designa forças retrógradas, como as religiosas fundamentalistas, os terroristas do Oriente e Ocidente ou as políticas radicais. Tudo o que escapa da instituição da democracia representativa e midiática é alardeado como perigoso e autoritário, não como no passado, identificando e expondo razões adversárias, contudo agora desprezando, como se fossem inevitáveis entraves, mas incapazes de colocar a democracia em risco. Por certo, a democracia não é mais somente representativa. O recrutamento das candidaturas e do eleitorado também passa definitivamente pelos fluxos eletrônicos, incluindo o toque na própria urna para votar ou o sufrágio por meio do fluxo eletrônico, sem que o cidadão precise deslocar-se de sua residência, mais uma comodidade. No parlamento, na Internet ou na televisão interagem segmentos estratificados da população, políticos, âncoras jornalistas, comandantes de auditórios, regentes de programas temáticos, grupos em situações de risco, artificialmente criados visando fortalecer a estima, a força e a capacidade diplomática do indivíduo em programas diários ou semanais de televisão, enfocando liderança, sistema de privilégios e prêmio em dinheiro. Em todos eles exige-se a opinião do telespectador, sua participação. Ele que espia, se possível, diuturnamente a vida dos outros, no laboratório dos programas de TV e pelas notícias em cima do acontecimento. Internet e televisão passam a ser, neste caso, também locais de produção da verdade. O telespectador e o navegador estão sendo educados pela telerrealidade, alertou George Balandier. A democracia dos meios de comunicação, como também localizou Carlo Freccero, acaba funcionando como totalitarismo; não há respiração sequer para a reflexão, apenas o convite para participar e se filiar a uma corrente de opiniões.
7 comentários:
Resistência agora é sinal de estupidez. De insanidade. Resistir a que, se a história acabou ?
Se não há mais nada por que lutar, a não ser pela própria sobrevivência sem sentido, prá que resistir ?
ass. abnegado
revoltar-se sempre, pois só assim poderemos dar sentido às nossas vidas...
albert camus:
"eu me revolto, logo existo!"
portanto, devemos resistir a qualquer invasão ao nosso desejo de existir...
“É preciso aceitar o indefinido da luta... O que não quer dizer que ela não acabará um dia” (michel foucault, microfísica do poder. p. 147. Rio de Janeiro: Graal, 1986)
É TRISTE PERCEBER QUE A REVOLTA PERDE ESPAÇO NO MUNDO. MAS ENTENDER QUE SE NÃO HÁ REVOLTA NÃO HÁ SENTIDO JÁ SÃO OUTROS 500.
HÁ UMA FALHA TEÓRICA NESSE ANARQUISMO AI. OU SE É TOLERANTE COM OS NÃO REVOLTADOS OU NADA SERÁ FEITO PARA SE MUDAR O QUE SE QUER MUDAR.
será, mesmo, que a história acabou!?
onde está a contradição em dar sentido a existência pela via da revolta, isto numa perspectiva camusiana?
qual seja esta revolta, dizer sempre NÃO aos que querem transformar a liberdade do indivíduo em uma mera expressão de consumo de inutilidades multicoloridas.
é, também, pronunciar-se CONTRA às idolatrias que primam em tentar neutralizar as ações de inssurgências que pipocam aqui, ali e acolá...
acredito que não seria, portanto, interessante comungar condescendente com os NÃO-REVOLTADOS.
pois seria aceitar como 'positivo' as posturas dos acomodados, submissos e coniventes com tudo de 'negativo' que aí está.
francisco trindade [MAIO, 2006]:
"Liberdade Absoluta implica no direito de liberdade até mesmo para aqueles que querem suprimi-la.
Resulta em dar o direito aos fascistas, ou partidários da monarquia, de existirem e de promoverem suas acções contra uma ordem estabelecida, sem que sofram represálias por isso.
Aos inimigos da Liberdade não se pode conceder nenhum direito, nem o direito de viver.
A “Liberdade Absoluta” implica na negação da organização social, nos seus meios de produção e de direitos políticos.
Ou seja, implica na negação da própria ideia de liberdade, de direitos de decisão iguais para todos.
A sociedade necessita de normas para que sua funcionalidade e harmonia existam ..."
Adorno e Horkheimer já denunciavam a 60anos atrás este tipo de mentalidade que visa aglutinar tudo e a todos... o totalitarismo do esclarecimento... nada escapa ao seu avanço e crivo.
Postar um comentário