Hoje posto aqui duas formas de exposição acerca do estado de vigilância em que se encontra nossa sociedade. A primeira, acadêmica, faz parte de uma tese de doutorado de Marco Vinício Zimmer, da UFRS, onde ele toma de Michel Foucault algumas análises sobre a "sociedade disciplinar" que nos envolve ainda hoje. Com o título "O Panóptico está Superado ? Estudo Etnográfico sobre a Vigilância Eletrônica", a tese construída defende que o Panóptico, mediado pelas Novas Tecnologias da Informação, continua sendo válido e atual. A segunda forma de cunho artístico/jornalístico é um trecho de documentário sobre o livro "1984", de George Orwell. No documentário de Ned Judge, em co-produção da Discovery e TLC, se faz uma abordagem da vida de Orwell e de sua obra.
As referências de páginas da obra de Foucault no texto de Zimmer são da edição de 2004 do livro Vigiar e Punir.
Vejam ai, e até a próxima Quarta-Feira.
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A vigilância hierárquica se realiza de duas formas: a partir da explicitação do olhar sobre aqueles que são observados e “das pequenas técnicas das vigilâncias múltiplas e entrecruzadas, dos olhares que devem ver sem ser vistos” (p. 144). Foucault localiza a primeira forma de controle na disposição física das tendas em um acampamento militar ou nos quartos e mesas de refeições das escolas.
Já no contexto industrial, faz-se necessária uma outra forma de vigilância, devido aos incrementos de volume das forças de produção. O olhar “direto” do patrão não é suficiente para abarcar os grandes espaços, a enorme quantidade de trabalhadores que operam nesses locais. Esse novo tipo de controle “é realizado por prepostos, fiscais, controladores e contramestres (...) [e] leva em conta a atividade dos homens, seu conhecimento técnico, a maneira de tazê-lo, sua rapidez, seu zelo, seu comportamento” (p. 146).
Assim, “à medida que o aparelho de produção se torna mais importante e mais complexo, à medida que aumentam o número de operários e a divisão do trabalho, as tarefas de controle se fazem mais necessárias e mais difíceis” (FOUCAULT, 2oo4b, p. 146).
A vigilância, em todas as estruturas institucionais, seja de forma explícita ou implícita, viabiliza a disseminação do poder disciplinar, no que Foucault denomina a “microfísica do poder” (FOUCAULT, 2004a), qual seja, o estabelecimento de formas e de relações de poder em tudo, em todos e entre todos, não numa ótica dualista marxista (oposição capital - trabalho), mas sim permeando todo o tecido social, todas as formas de relacionamento entre os seres humanos. Para Foucault, o poder, em si, não é bom ou ruim, não é determinado a priori de forma negativa: ele “está”. Nas suas palavras, “temos que deixar de descrever sempre os efeitos de poder em termos negativos: ele “exclui”, “reprime”, “recalca”, “censura”, “abstrai”, “mascara”, “esconde". Na verdade o poder produz; ele produz realidade” (FOUCAULT, 2004b, p. 161). Assim, a vigilância
“permite ao poder disciplinar ser absolutamente indiscreto, pois está em toda parte e sempre alerta, pois em princípio não deixa nenhuma parte às escuras e controla continuamente os mesmos que estão encarregados de controlar; e absolutamente “discreto”, pois funciona permanentemente e em grande parte em silêncio” (FOUCAULT, 2004b, p. 148).
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3 comentários:
se o livro já era bom, mais ainda foi o filme com richard burton.
gostei do blog. um pouco de seriedade num mar de futilidades.
Tanto Foucault, quanto Orwell, tiveram uma quedazinha pelo anarquismo. Coincidência ?
Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de castigar.
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