domingo, 1 de agosto de 2010

Por uma cultura remixada

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No ano passado durante uma das aulas na disciplina sobre Direitos Autorais, no Curso de Convergência Midiática, na FSBA, o professor Rodrigo Moraes trouxe para a turma um vídeo publicado no YouTube sobre como aqueles “direitos” têm sido atingidos pelas novas tecnologias de comunicação.

Lembro muito bem de um trecho do vídeo em que se discutia nos tribunais norte-americanos (e nas mídias clássicas) sobre a legalidade (legitimidade ??) ou não de um indivíduo se apropriar de segmentos de várias músicas, por exemplo, remixá-los e transformá-los em um “novo” produto.

As grandes gravadoras (tendo por trás as grandes redes de comunicação) estavam determinantemente contra aquilo que eles consideravam uma cópia, e algo que ia de encontro ao entendimento clássico do que seriam direitos autorais. Mas, em oposição às grandes corporações, surgiam novos personagens nas lutas dentro e fora dos tribunais: as redes sociais virtuais.

Na realidade, estavam por trás das redes os indivíduos e grupos de indivíduos que a partir daquelas ferramentas, existentes graças às novíssimas tecnologias de informação, se agrupavam em verdadeiras zonas autônomas transitórias. E ali, onde apareciam novos entendimentos de mundo, novas visões da sociedade, era construída uma espécie de cultura coletiva, a partir de interesses mútuos e novas socialidades.

A força dessas redes faz com que seus questionamentos e debates internos repercutam até mesmo nas grandes mídias (das grandes corporações a quem tantas vezes se opõem). Pelo mundo a fora essas redes têm possibilitado mobilizações em ações coletivas, de apoio e solidariedade (inclusive com intervenções em políticas públicas – por exemplo, no caso de Senador Republicano que seria o líder do Congresso Norte-Americano em 2003, caso um simples blogueiro não tivesse avaliado seu histórico racista nos anos 60, e tivesse jogado lama no ventilador).

Todo esse poder nasce na própria origem das proposições daqueles que constróem as redes no ciberespaço: Difusão de Culturas Emergentes, Trabalho Coletivo a Distância, Comunidades Temáticas (identitárias) e, principalmente, Liberdade de Emissão da Informação, com a consequente produção de conhecimento autônomo e, de certo ponto de vista, descontrolado.

Pode-se mesmo dizer que se forma uma nova economia da informação. Há na Internet dezenas de ferramentas (em muitos casos propriedades das mesmas grandes corporações que antes detinham o poder de informar sozinhas) que propiciam ao cidadão comum possibilidades de produção de conteúdo nunca vistas antes.

Mas aquelas ferramentas propiciam mais que isso. Elas potencializam a capacidade de colaboração, a partir de nós e teias, que se transformam em novas interligações modificando “substancialmente as funções de aquisição, armazenagem e disseminação da informação e do conhecimento” (Claudia Cunha Ribas).

O tripé econômico da Produção/Circulação/Consumo a partir dessas redes é reconfigurado e ressignificado pelos indivíduos, enquanto cidadãos, e não mais pelas empresas tradicionais. E, dessa forma, aquelas empresas têm de se “render” às redes sociais. E, quem sabe, se apropriar daqueles espaços.

Mas não uma apropriação aos moldes antigos. Uma apropriação não mais mono-lítica, uni-direcional, mas poli-lógica e multi-linear, onde se perceba os indivíduos não mais como receptores de uma seringa hipodérmica, sem reações conscientes.

Os indivíduos da era das redes sociais têm de ser agora entendidos mesmo como sujeitos, na sua definição aceita modernamente, como aqueles que são conscientes de seus pensamentos e responsáveis por suas ações.

Talvez, vendo o indivíduo dessa forma, os defensores de um Ancien Régime possam até mesmo compreender que novas mixagens são realmente novos produtos e que a Indústria Cultural não pode ser mais entendida como antes.

Produzi este texto como parte das avaliações feitas
pelo professor Claudio Manoel durante as aulas,
neste fim de semana,
na disciplina Assessoria de Comunicação na Era Multimídia,
do curso de Convergência Midiática da FSBA (Faculdade Social da Bahia).

2 comentários:

Anônimo disse...

olá.

um vídeo conta essa história de direito autoral de forma bem divertida.

http://www.youtube.com/watch?v=R1QnXJYT9ao

Anônimo disse...

quem é "dono" do quê??

quando esta questão - sobre a propriedade - é colocada, lembro-me sempre do anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon no texto de 1840 O que é a propriedade?:

“O capitalista, dizem, pagou as jornadas dos trabalhadores. Mas a força imensa que resulta da união e da harmonia dos trabalhadores, da convergência e da simultaneidade de seus esforços não pode ser paga.

Duzentos granadeiros altos e corpulentos ergueram em poucas horas o obelisco de Luxor. Será que um só homem, em 200 dias, conseguiria o mesmo feito?

Na conta final do capitalista, a soma dos salários seria a mesma. Um deserto a ser cultivado, uma casa para construir, uma fábrica para explorar: tudo isso é equivalente ao obelisco levantado.

A menor fortuna, o menor estabelecimento, a mais fraca indústria exigem a participação de trabalhos e talentos tão diversos que o mesmo homem seria incapaz de fazer”.