domingo, 6 de junho de 2010

Relatos acerca da Sociedade da Vigilância (3ª Parte)

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2.8 - É bom estabelecer mais três questões com respeito ao que há de errado na sociedade da vigilância.
2.8.1 - A primeira tem a ver com o que foi dito sobre circunstâncias excepcionais e consequências indesejáveis. É imperativo inspecionar sistemas que permitam o desenvolvimento de desigualdades gritantes de acesso e oportunidades. É claro que, como todos os autênticos sistemas de vigilância se propõem a discriminar um grupo do outro, isso é difícil, mas o problema pode ao menos ser trazido a público. Infelizmente, os modos dominantes da expansão da vigilância no século 21 estão produzindo situações nas quais distinções de classe, raça, sexo, geografia e cidadania são exacerbadas e institucionalizadas. Nosso relatório detalha essas situações.
2.8.2 - A segunda, que diz respeito mais profundamente à solidariedade e à coesão social, é a de que todos os processos e práticas de vigilância atuais revelam um mundo no qual sabemos que não confiam em nós. A vigilância fomenta a desconfiança. O patrão que instala monitores de teclas digitadas em estações de trabalho ou dispositivos de GPS em veículos de serviço está dizendo que não confia em seus empregados. O administrador de benefícios previdenciários que procura por evidências de fraudes está dizendo que não confia em seus clientes. E quando os pais começam a usar câmeras e sistemas de GPS para conferir as atividades de seus filhos adolescentes, eles também estão dizendo que não confiam neles. Você pode fazer uma objeção aqui, dizendo que alguns desses procedimentos são mera precaução. Mas até onde isso pode ir? As relações sociais dependem da confiança, e permitir que essa confiança seja minada desse jeito pode parecer um lento suicídio social.
2.8.3 - A última questão relativa à sociedade da vigilância tem a ver com uma constante preocupação de que a vigilância, especialmente a associada à alta tecnologia e ao antiterrorismo, sirva como uma distração às alternativas e a outros assuntos mais urgentes. Podemos nos perguntar se essa é mesmo a melhor maneira de perseguirmos esses objetivos. Infelizmente, e sem sucumbir ao cinismo, temos que observar que a provisão de novas tecnologias de vigilância apoia a economia, ajuda a manter longe os 'indesejados', confere a aparência de ação definitiva, dá a impressão de que as saídas estão bloqueadas e apoia a postura de que tudo isso é normal.
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Na Quarta-Feira que vem traremos a última transcrição traduzida do Relatório sobre a Sociedade da Vigilância, identificando justamente os motivos desta adjetivação para nossa sociedade, neste início do Século XXI.

Até lá.

3 comentários:

Anônimo disse...

será que podemos afirmar que o projeto Echelon está a pleno vapor???

jack, o estripador disse...

"Nunca haverá paz e liberdade enquanto existirem os ESTADOS, sejam eles grandes ou pequenos, fortes ou fracos, democráticos ou totalitários, teocráticos ou laicos.

E uma vez que o fundamento de qualquer ESTADO é a fé, a fé política pois que a filosofia é tão incapaz de provar a deus quanto de demonstrar e justificar a autoridade, a única resistência possível a curto prazo é a desobediência civil; único meio que poderá por fim à paz perpétua deste cemitério de vivos.

A desobediência é a virtude original do homem; seu contrário é o rebanho, a submissão e a docilidade"

Anônimo disse...

Não demorará muito, quando para a "nossa" segurança, os patrões irão, junto aos governos, determinar o uso de chips implantados em "nossos" corpos.

ass. V