quarta-feira, 9 de junho de 2010

Relatos acerca da Sociedade da Vigilância (4ª Parte)

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Exponho hoje aqui os sub-itens do Relatório sobre Vigilância que definem os motivos pelo qual devemos entender a sociedade em que vivemos como uma Sociedade de Vigilância.

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3.5 - E o que dizer da vigilância como adjetivo, descrevendo um tipo de sociedade? De onde veio a ideia da sociedade da vigilância? Como era de se esperar, a ideia começou a aparecer após a primeira onda de computadorização das organizações nos anos 70. Na época, a principal metáfora era a do ‘Grande Irmão’ do famoso romance de George Orwell, 1984. Nos anos 80, vários estudos sérios foram escritos com base nos dos anos 701 e alguns começaram a usar o termo ‘sociedade da vigilância’. Gary T. Marx invocou 1984 no que foi a primeira referência da ciência social à ‘sociedade da vigilância’ em 1985, seguida pelos comentários de Oscar Gandy sobre o ‘controle social burocrático’ — uma referência ao trabalho de Max Weber, também atualizado para a era digital, e que também alertava para a ‘sociedade da vigilância’.
3.6 - Curiosamente, nossa imagem de vigilância por parte do estado costuma ser moldada por romances e filmes. Exemplos proeminentes são O Processo (1914) de Franz Kafka, no qual a figura enigmática de Josef K (o que aconteceu com o nome dele?) confronta acusadores desconhecidos com acusações pouco claras, ou 1984 (1948) de George Orwell, que pinta um quadro aterrorizante de uma vigilância detalhada e condenatória por parte do estado-nação, personificado pela imagem sinistra e assombrosa do ‘Grande Irmão’. Esses romances destacam o papel crucial da informação (ou da falta dela, da parte dos vigiados) em governos burocráticos, ao lado da constante ameaça do totalitarismo.
3.7 - Kafka e Orwell só não tinham como prever a ascensão dos computadores e a completa digitalização da administração. Afinal, o ‘chip de silício’ só surgiu trinta anos depois de 1984. Mas a partir dos anos 70, os computadores proporcionaram uma maciça expansão nas formas como a vigilância e o controle burocrático ocorriam. Ainda que os dilemas da vigilância sejam explorados brilhantemente em A Conversação (1974), o filme se baseia principalmente na vigilância convencional de áudio e escutas. Filmes mais recentes como A Rede (1995), Inimigo do Estado (1998) e Minority Report (2002) tratam mais diretamente da vigilância baseada em TI. No entanto, como os filmes são sensacionalistas, dependem de seu sucesso na exploração das capacidades tecnológicas, e não das consequências cotidianas da vida em sociedades vigiadas.
3.8 - Por isso é útil voltarmos às ciências sociais. Mesmo com as mudanças ocorridas nos negócios e nos governos desde a época de Weber — computadorização, redes, globalização e até mesmo o ‘gerenciamento de relacionamentos’ — os princípios básicos ainda se aplicam. É por isso que as visões de Weber sobre o mundo moderno da vigilância são tão significativas. Ele viu essa vigilância, mantendo registros detalhados, reunindo informações, limitando o acesso a pessoas qualificáveis, não como uma mera evidência do ‘progresso’, mas como profundamente ambígua. No pior dos quadros, ele previu que o mundo eficiente e sem alma da organização burocrática se tornaria uma ‘jaula de ferro’. As pessoas comuns se sentiriam aprisionadas em um sistema impessoal e que não se importa. Adicione a isso a indiferença maligna dos interrogadores de Josef K, ou os caprichos de um ditador implacável como o ‘Grande Irmão’, e o resultado será uma receita para a repressão.
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Se desejarem mais informações a respeito deste Relatório, ou uma leitura mais pormenorizada, devem ir ao link que segue:

surveillance_society_full_report_2006.pdf

Domingo estou de volta.

Um comentário:

Anônimo disse...

VIVEMOS NO MUNDO DE THOMAS HOBBES, E NÃO NO DE ROUSSEAU. SE NÃO TIVERMOS VIGILÂNCIA A COISA ESCAMBA PARA A DEGENERAÇÃO E A BARBÁRIE. NÃO TEMOS OUTRA SAÍDA PARA MANTER A CIVILIZAÇÃO, SENÃO O ETERNO VIGIAR.