Hoje continuamos a mostrar os itens de Histórico e Definições no Relatório sobre Vigilância o qual já vimos no Domingo passado.
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1.5 - Quando o estado-nação estava em seu auge e os departamentos proliferaram, após a Segunda Guerra, os sistemas começaram a rachar e a ruir com a pressão. Mas o socorro estava a caminho, na forma dos novos sistemas computadorizados que reduziam a intensividade do trabalho e aumentavam a confiabilidade e o volume de trabalho que podia ser realizado. Com o tempo, e com os novos sistemas de comunicação, hoje conhecidos sob o grupo TI (Tecnologia da Informação), a administração burocrática poderia funcionar não só entre departamentos da mesma organização, mas também entre organizações diferentes e, eventualmente, de forma internacional. Algo muito parecido também se aplica aos negócios, que primeiro mantinham registros, depois estabeleceram redes e então se tornaram globais, por cortesia da TI. Essas atividades ‘combinadas’ se relacionam aos desejos modernos e técnicos por eficiência, velocidade, controle e coordenação.
1.6 - As práticas impessoais e centradas em regras deram origem à vigilância. A vigilância dos subordinados e a criação de registros no sistema são essenciais para a burocracia. As práticas de contabilidade de dupla entrada e do corte de custos e aumento dos lucros aceleraram e deram força a essa vigilância, que tinha impacto na vida operária e no consumo. E o crescimento dos departamentos militares e de polícia no século 20, impulsionado pelo rápido desenvolvimento de novas tecnologias, aprimorou as técnicas de coleta de informações, identificação e rastreamento. Mas a mensagem principal é a de que a vigilância cresce como parte do que é ser moderno.
E o Relatório a partir desse momento inicia o item O que há de errado com a sociedade da vigilância ?, servindo como um alerta para a sociedade atual onde os dispositivos de vigilância e controle começam a ser vistos de forma naturalizada, como se fossem as CCTVs, por exemplo, necessidades absolutas para a humanidade.
2.1 - Entender a sociedade da vigilância como um produto da modernidade nos ajuda a evitar duas armadilhas importantes: pensar na vigilância como um esquema maligno arquitetado por poderes perversos, e pensar que a vigilância é única e exclusivamente um produto das novas tecnologias (obviamente, os mais paranóicos veem essas duas coisas como uma só). Mas pôr a vigilância sob a perspectiva certa, como o resultado da burocracia e do desejo por eficiência, velocidade, controle e coordenação, não significa que esteja tudo bem. Só o que isso significa é que temos que ser cuidadosos ao identificar as questões principais, e vigilantes ao chamar a atenção para elas.
2.2 - A vigilância tem dois lados, e é preciso reconhecer seus benefícios. Por outro lado, riscos e perigos sempre se apresentam em sistemas de larga escala, e é claro que o poder corrompe ou ao menos deturpa a visão daqueles que o possuem.
2.3 - Vamos começar pelos riscos e perigos. Estamos mais acostumados a eles, já que no século passado se tornou pública a constatação de que o ‘progresso’ é uma benção dúbia. Todo aumento na produção de ‘benefícios’, como Ulrich Beck afirmou de forma sucinta, também implica em uma maior produção de ‘malefícios’.
2.4 - Além dos relacionados ao meio ambiente, que tinham lugar de destaque na concepção de Beck, alguns desses ‘malefícios’ são sociais e políticos. As infraestruturas tecnológicas de larga escala são especialmente propensas a problemas em larga escala. E nos sistemas computadorizados em particular, o pressionar acidental ou mal orientado de uma tecla pode facilmente causar uma grande confusão. Pense na liberação para fins de ‘pesquisa’ dos tópicos pesquisados online por vinte milhões de pessoas comuns por parte da AOL, em agosto de 2006. Supostamente não havia identificadores, mas em pouquíssimo tempo os registros de pesquisas começaram a ser conectados aos nomes. Este relatório lança um olhar sob alguns dos problemas dos sistemas de vigilância de larga escala.
2.5 - É igualmente importante lembrarmos-nos da questão do corrompimento e da deturpação das visões do poder. Mais uma vez, não precisamos imaginar um tirano cruel obtendo chaves de acesso a bancos de dados médicos ou da previdência social para enxergar o problema. O corrompimento do poder inclui líderes que apelam a um suposto bem maior (como a vitória na guerra) para justificar táticas incomuns ou extraordinárias.
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Como gosto de usar o que se passa pelas mídias no que se refere ao tema deste blog, hoje recorri a uma das séries americanas que podemos assistir em canais de TV a Cabo ou Satélite: 24 Horas.
As vêzes podemos até pensar que algumas sequências de filmes são obra da fértil imaginação dos seus roteiristas e diretores. Em Minority Report, por exemplo, os computadores de uma loja, ajudadas por leitores de iris, conseguem identificar os seus clientes, e com o banco de dados de suas compras anteriores podem "motivá-lo" a comprar novos produtos. Isso ainda pode ser ficção científica.
Mas na sequência que segue de 24 Horas é real a possibilidade do governo americano identificar quaisquer pessoas "não-gratas", em qualquer local onde haja câmeras de vigilância. Essa sequência foi retirada do décimo episódio, na oitava temporada.
Quarta-Feira que vem trarei mais uma parte traduzida do Relatório sobre Vigilância. Até lá.
Um comentário:
francisco trindade:
"Desde o 11 de Setembro que grandes mudanças têm sido operadas nos sistemas de segurança interna. A pretexto do combate ao terrorismo, em muitos países ocidentais foram aprovadas leis que retiram o direito à privacidade e ameaçam liberdades básicas, ao mesmo tempo que foram criados organismos especializados de vigilância cujo objectivo é, basicamente, a perseguição de movimentos sociais. Os movimentos ecologistas e de libertação animal têm sido especialmente visados nesta campanha persecutória, que atingiu já proporções kafkianas nos EUA e no Reino Unido."
http://franciscotrindade.blogspot.com/2010/06/somos-todos-terroristas.html
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