domingo, 1 de novembro de 2009

Arte, Vigilância e Controle

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George Orwell nos alertou em 1948, no seu livro “1984”, sobre as possibilidades de existência de um mundo totalitário, onde os Estados concentrariam todo poder político, e os indivíduos seriam controlados com o auxílio da aparelhagem tecnológica existente ali naquele mundo.

A cena em que ele descreve a chamada Teletela é apenas uma amostra daquele mundo.
Por trás de Winston a voz da teletela ainda tagarelava a respeito do ferro gusa e da superação do Nono Plano Trienal. A teletela recebia e transmitia simultaneamente. Qualquer barulho que Winston fizesse, mais alto que um cochicho, seria captado pelo aparelho; além do mais, enquanto permanecesse no campo de visão da placa metálica, poderia ser visto também. Naturalmente, não havia jeito de determinar se, num dado momento, o cidadão estava sendo vigiado ou não.(ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. Pag.6)
Artistas, poetas, escritores são bons nesta arte de prever esse tipo de futuro sombrio. Antes de Orwell muita gente já havia percebido que a tecnologia (que dá tantas esperanças ao ser humano, no sentido de tornar o mundo mais seguro para viver, diminuindo as dificuldades naturais a que é exposto) poderia se virar contra o criador.

Mary Shelley, no início do Séc. XIX, com seu “Frankenstein”, talvez tenha sido a primeira a perceber aonde poderíamos chegar na busca incessante da ciência por novidades que melhorassem nossas vidas. Charles Chaplin, em 1936, já havia também mostrado ao mundo como a tecnologia desumanizava os indivíduos em “Tempos Modernos”. Ideia muito bem elaborada na sequência em que o personagem principal é engolido pelas engrenagens da fábrica. “Metropolis”, filme dirigido por Fritz Lang em 1927, “Admirável Mundo Novo”, escrito por Aldous Huxley em 1931... e tantas outras obras escritas e/ou filmadas também são exemplos daquilo que pode ser conceituado como Utopias Negativas, ou Distopias.

Ray Bradbury na sua obra “Fahrenheit 451”, publicada em 1953, como um outro exemplo de distopia, baseia-se no mundo norte-americano dos anos 50, com a perseguição do McCarthyismo, para criar um outro mundo futuro em que a TV e os Mass Media substituem as relações familiares e sociais, e a tecnologia torna-se cada vez mais eficiente e opressiva . Assim, naquele mundo controla-se o que se lê, e no fim das contas, o que se pode pensar.

A vigilância constante e eficiente é, em boa parte das obras aqui relacionadas, elemento fundamental no controle das sociedades idealizadas.

Vejam a seguir o trecho do filme baseado no livro 1984, com Jonh Hurt fazendo o papel do angustiado Winston (e o saudoso Richard Burton como seu algoz, no último papel antes de falecer). O trecho em si já trás um pouco do que pode ser compreedido como um mundo totalitário comandado pela perspectiva de estar sempre observado, sem qualquer privacidade.



Este ano começou a ser comercializado o DVD referente a aquele filme, após uma longa e ansiosa espera. O DVD está sendo vendido na loja Submarino. O livro também está a venda: Buscapé.

Quarta-Feira estarei por aqui de novo.

10 comentários:

jack, o estripador disse...

como diria o velho pensador francês (foucault) cada época gera seus próprios instrumentos tecnológicos de vigilância... e o "controle" que se instala em nossas mentes seria uma conseqüência direta do exercício desta presumível vigilância.

segue, logo abaixo, um pequeno trecho onde michel foucault avalia o objetivo de um desses instrumentos, o panóptico:

"a lógica de Bentham sobre a estrutura arquitetônica do Panóptico consiste em manter as pessoas, “(...) cada um em seu lugar, bem trancado em sua cela de onde é visto de frente pelo vigia; mas os muros laterais impedem que entrem em contato com seus companheiros.

É visto, mas não vê; objeto de sua informação, nunca sujeito numa comunicação. A disposição de seu quarto, em frente da torre central, lhe impõe uma visibilidade axial; mas as divisões do anel, essas celas bem separadas, implicam uma invisibilidade lateral”.

sabemos que o objetivo da construção deste vídeo-documentário é detectar as "tecnológicas" de controle & vigilância, que hoje impera em nosso cotidiano via as novas tecnologias desenvolvidas para dar suporte a um meio que tinha por objetivo específico fazer circular as informações e agilizar os processos de comunicação: a internet.

mas para que este trabalho de pesquisa aprofunde mais seu tema, não podemos deixar passar a oportunidade de buscar às possíveis "vítimas" deste sistema ideológico, que busca tão somente a sua reprodução e manutenção.

se faz necessário, visto que "elas", as possíveis vítimas, geralmente assumem posições "condescendentes" com todo esse aparato tecnológico de manipulação do conceito de liberdade individual e ou coletiva.

Anônimo disse...

VÍTIMAS ? UMMM !!! A DOR TAMBÉM PODE GERAR PRAZER. O SER HUMANO TAMBÉM PODE SENTIR PRAZER QUANDO ESTÁ SENDO VIGIADO, ENTÃO NÃO COMECEMOS A MANIQUEIZAR COM UM VELHO DISCURSO DE BONZINHOS CONTRA MAUZINHOS.

UM ABRAÇO,

SERGIO

jack, o estripador disse...

sergio,

os antagonismos/ contradições no sistema capitalista estão aí para quem quiser ver...

não se trata da velha luta maniqueísta entre o bem e o mal, isso é coisa de cristão tentando alcançar/ garantir o seu lugarzinho no paraíso ou nos quintos dos infernos.

o que se tenta demonstrar é que os instrumentos tecnológicos de vigilância & controle tem como objetivo claro à manipulação de corpos (vigiar & punir) e mentes (controle) para o deleite corporativo/ de classe.

Segunda-feira, 02 Novembro, 2009

Anônimo disse...

É UM PENSAMENTO, SENÃO MANIQUEÍSTA, MUITO SIMPLIFICADOR DO QUE É O MUNDO. UNS TENTANDO CONTROLAR, E OUTROS SENDO CONTROLADOS ? COMO SE PUDÉSSEMOS VER (A PARTIR DE ALGUMA TELETELA) TUDO QUE SE PASSA NA CABEÇA DOS SERES HUMANOS ?
OS DISPOSITIVOS DE VIGILÂNCIA TAMBÉM TÊM O OBJETIVO DE DAR PRAZER. COMO UM JOGO QUE GERA PRAZER, OBSERVAR O OUTRO, OU SER OBSERVADO TAMBÉM É PASSÍVEL DE PRAZER.

SDS,

SERGIO

EU disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
EU disse...

EU disse...
Colocando o bedelho em conversa alheia:

É sabido que a prática do voyerismo (observar sem ser obsevado, e sem a anuência daquele que está sendo o alvo de observação) não é bem vista pelo conjunto da sociedade, tendo conseqüências tanto no ambito moral (linchamento) como judicial (cerceamento da liberdade por atentado ao pudor).

Terça-feira, 03 Novembro, 2009

jack, o estripador disse...

maniqueísta e/ou reducionista, eis a questão?

não penso em censurar (ou estimular) o prazer que se possa obter num jogo de gato e rato, pois no relacionamento humano as posições (o algoz e a presa) podem se inverter a todo momento.

prazer e poder se contundem sobre-maneira nas relações inter-pessoais...

entretanto, nessa análise dos instrumentos (dispositivos) de controle & vigilância vão muito além da relações inter-pessoais e invadem as relações formais/ contratuais entre o sujeito/ indivíduo e as instituições governamentais e/ou corporativas sem o devido consentimento das partes envolvidas (vigilância).

por exemplo, quando você faz uma aquisição de sulfato de enxofre uma luz amarela se acende no ministério da defesa, nada mais justo (?!)...

mas ao fazer uma visita, por mera curiosidade, a um site sobre bonecas infláveis várias luzinhas vermelhas se acenderão ao redor do mundo e a sua caixa de e-mail estará super-lotada, isso em fração de segundos, com milhares de mensagens eletrônica multicoloridos não-solicitada e enviada em massa (spams) por empresas e empreendedores ávidos em fechar algum negócio lucrativo para ambas as parte, será realmente???

Anônimo disse...

A prática de voyerismo não é bem vista onde ? Na Arábia Saudita ? No Irã ?
Pois aqui pelas bandas do ocidente ela é até incentivada: Exibicionismo e Voyerismo estão frente a frente em programas como Big-Brother (olha ele ai de novo).
Ah, os governos podem estar usando isto para manter as pessoas calmas e acalmadas ? Sim. E daí ?
Muitas pessoas estão felizes sendo observadas. Estão seguras, inclusive, pois a vigilância dá a elas a sensação de impossibilidade de serem "violentadas" fisicamente.
Tem gente feliz também por receber todos os e-mails sobre bonecas infláveis (ou penis inflamáveis), venham de onde vierem.
Ah, elas são alienadas ? E quem não está ?

bjs. Clausia Santana

EU disse...

Clausia,

Não se limite ao mundo das virtualidades...

Num caso recente, que está na tv desde a semana passada: uma universitária de turismo por um triz não foi linchada/ estuprada por seus coleguinhas "disciplinados" (esqueceram de domesticá-los) ao aparecer na faculdade com uma "roupa de festa" (um vestido vermelho curtíssimo e com as costas nuas).

Alguém há de ser "punido" para se manter o sistema em seu curso de produção e re-produção de uma conduta de auto-disciplinamento (controle).

Carlos Baqueiro disse...

Senhores e senhoras...

Virtualidades a parte, o concreto é que estamos em um mundo que da mesma forma que incentiva, também pode punir, aparentemente pelas mesmas ações.
Filmar uma professora dançando a música da calcinha pode e até filmar presidente tomando banho de mar na praia de Inema pode (colocam o zoom e pegam uma imagem ou outra).
No filme 1984 apenas o Estado tinha a possibilidade de vigiar. Hoje temos a capacidade de filmar tudo, através de pequenos dispositivos (celular, mp11, canetas espiãs), e cada vez mais essa possibilidade se dá de maneira mais democrática. Estamos sendo filmados até mesmo por nossos parentes e amigos nos babas, por exemplo, prá pegarem a gente fazendo alguma besteira com a bola, ou caindo a toa depois de várias doses de campari.
Prazer e dor estão imbricadas no que se refere a vigilância. Devemos estar vigilantes para este processo não se tornar mais um instrumento de controle social de mentes autoritárias sobre a maioria da população.

um abraço,

cb