Nos vídeos a seguir, disponibilizados pela Rede Record, através de seu canal R7, na Internet, podemos observar como a TV está se utilizando das gravações das Câmeras de Vídeo de Segurança (conhecidas como CFTV - Circuitos Fechados de TV), para criar suas notícias.
Canal R7 - 06 de Outubro de 2009
São Paulo no Ar - 14 de Outubro de 2009
Não é difícil encontrar opiniões afirmando que os CCTV dão ao indivíduo a sensação de segurança. A possibilidade de identificação dos infratores (qualquer que seja a regra) cria mesmo a sensação de que elas podem diminuir a criminalidade, por exemplo.
Ieda Tucherman, da Escola de Comunicação da UFRJ, em entrevista a jornalista Patrícia Pereira, na Revista Sociologia, de Janeiro de 2001, deixa claro o que pensa sobre esses dispositivos de vigilância:
As instâncias salvaguardam essa estrutura porque supostamente oferecem proteção. Eu não concordo. Ao fazer isso, acirram a ideia de cidade partida. Declara-se guerra ao outro. Abre-se mão do encontro com a diferença. Esse controle é a espacialização da diferença.
No mesmo artigo da Revista Sociologia, entitulado Sociedade do Controle, a jornalista também entrevista outra pesquisadora do tema vigilância, Fernanda Bruno, professora do Instituto de Psicologia da UFRJ. Ela considera que os indivíduos vão interiorizando e naturalizando a presença dos "olhares" das câmeras e assim vai se criando nos espaços públicos um autocontrole de comportamentos.
Mas não escolhi os vídeos a toa.A rua que sempre foi um lugar do anonimato, vai perdendo essa característica. As pessoas começam, de forma não muito gritante e visível, a ter atitude de autocontrole nesses espaços. Um dos objetivos da câmera é interiorizar a vigilância.
No primeiro deles ao final da passagem da repórter é dito que a polícia ainda não prendeu os "criminosos", e além disso os funcionários da farmácia já estão fartos dos assaltos (não inibidos pelos olhares das câmeras).
No segundo o apresentador, bem ao nível de programas chamados frequentemente de sensacionalistas, mostra que não tem certeza do que aconteceu na ação gravada pela câmera (o indivíduo que "pegou" a motocicleta seria um reles ladrãozinho ou o dono do veículo ?).
Dá prá se perceber que as gravações destas câmeras estão se tornando uma ótima (e barata) base de dados para as redes de TV, em seus programas "jornalísticos".
Já a resposta às questões sobre vantagens e desvantagens (custo benefício) do uso dessas câmeras para a sociedade está longe de ser unânime.
Até Quarta-Feira.
Um comentário:
copiar & colar:
"Nossa sociedade, como já observou Michel Foucault (1988, p.190), é menos a dos espetáculos do que a da vigilância.
Encontro-me num aeroporto qualquer, em qualquer parte do globo, esperando meu vôo a qualquer lugar.
Coloco minha bagagem numa esteira rolante; imediatamente ela é
bombardeada por um feixe de raios-X, que vasculha o seu conteúdo em
busca de substâncias ou instrumentos ilegais.
Eu próprio devo me encaminhar até uma simulação de porta ou coisa parecida, onde outro dispositivo examina meu corpo e o interior de minhas roupas.
Não tendo sido detectado nada suspeito, recebo do olho mecânico o go-ahead que me permite retomar a bagagem e prosseguir minha jornada em direção à sala de espera.
Sento-me numa poltrona e, enquanto observo o movimento, noto que há uma câmera, discretamente colocada num canto qualquer da sala, apontada para a minha direção, vasculhando todas as minhas ações.
Aliás, não há só uma; são várias, espalhadas estrategicamente por todo o saguão, de modo a não deixar um único espaço livre do escrutínio desse olhar anônimo e onividente.
Então me dou conta de que todas essas câmeras já estavam me seguindo desde que desci do táxi à entrada do aeroporto, acompanhando-me ao bar quando pedi um café e quando parei numa banca para comprar um jornal."
MACHADO, Arlindo.
Máquina e imaginário: o desafio das poéticas tecnológicas.
2 ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
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