domingo, 18 de outubro de 2009

O Panóptico

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Foto: peramblogando.blogspot.com

No final do Séc. XVIII o filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham concebeu pela primeira vez a ideia do panóptico. Para isto Bentham estudou “racionalmente”, em suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de prisão circular, onde um observador poderia ver todos os locais onde houvesse presos. Eis o panóptico.

Ele também observou que este mesmo projeto de prisão poderia ser utilizado em escolas e no trabalho, como meio de tornar mais eficiente o funcionamento daqueles locais.

Foi naquele período da história que, segundo o francês Michel Foucault, iniciou-se um processo de disseminação sistemática de dispositivos disciplinares, a exemplo do panóptico. Um conjunto de dispositivos que permitiria uma vigilância e um controle social cada vez mais eficientes, porém, não necessariamente com os mesmos objetivos “racionais” desejados por Bentham e muitos de seus antecessores e contemporâneos .

Dos anos 60, do Séc. XX, quando Foucault escreveu suas primeiras obras, até o início do Séc. XXI, novas tecnologias de comunicação e informação surgiram, permitindo novas formas de vigilância que por vezes se tornam tão dissimuladas que não são facilmente percebidas pelos indivíduos. Tornam-se também naturalizadas, não deixando claros todos os objetivos de quem se utiliza daquelas novas técnicas de vigilância.

Nestes novos tempos a vigilância também vem adquirir uma nova característica. A possibilidade de observação de todos sobre todos. Hoje é possível ao patrão ler mensagens de correio eletrônico de seu empregado, mas também existe a possibilidade de colegas lerem mensagens de colegas, maridos de esposas, pais de filhos, a partir de ferramentas gratuitas disponíveis na Internet, por exemplo.

Empresas conseguem, a partir de celulares, monitorar o local onde se encontram seus empregados. Governos e crackers podem, com o instrumental adequado, ter as informações bancárias de qualquer cidadão, a partir de banco de dados individuais (como aqueles referentes a antiga CPMF, por exemplo) e câmeras digitais vigiam cada metro quadrado de aeroportos.

O panóptico se disseminou. E como afirmou enfaticamente em meados dos anos 90 outro filósofo francês, Giles Deleuze, isso gerou a criação de uma Sociedade de Controle.

É a partir deste quadro que se considera interessante a existência de um veículo de comunicação que dê visibilidade ao tema Vigilância e Controle Social. A partir de uma mídia que ajude a suprir a demanda de conhecimento sobre aquele tema.

Dessa forma a criação de um novo veículo de comunicação teria os objetivos de difundir, debater, e ampliar uma discussão sobre o tema que permita às pessoas a compreensão sobre o funcionamento dos dispositivos disciplinares e da Sociedade de Controle.

Um comentário:

jack, o estripador disse...

Faz-se necessário recuperar a voz dos excluídos/monitorados pelo sistema que tudo sabe e tudo vê...

Pois o Estado/empreenderores já não se limita a vigiar os corpos & mentes.

Hoje o que "eles" almejam é controlar os pensamentos para se impor um pensamento que seja único.

Isto sem os "desvios" que permitam o aflorar da revolta, mesmo que seja individual, e que, por conseqüência, criem-se novas "vias" a serem trilhadas.