domingo, 31 de outubro de 2010

Eu só quero é ser feliz...

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Eu só quero é ser feliz
Andar tranqüilamente
Na favela onde eu nasci
É...
E poder me orgulhar
E ter a consciência
que o pobre tem o seu lugar.



Rap da Felicidade
 (Cidinho e Doca)


Para quem não conhece, os versos acima são de uma música tocada lá pelos anos de 1995 e 1996, quando ainda se podia chamar favela de favela. Hoje o nome dado ao mesmo local é Comunidade. Mas a violência e a corrupção policial, por exemplo, continuam andando por ali, da mesma forma que há 15 anos atrás.

O controle estatal, segundo George Orwell, em seu 1984, era também baseado na confusão de ideias difundidas dentro da sociedade. Favela, comunidade, violência, paz, segurança, felicidade. Paz é Guerra. Ignorância é Força. Liberdade é Escravidão. Eufemismos e ambiguidades. A sociedade de controle funciona nestas bases.

Encontrei a notícia que segue no dia 15 de Outubro, no site Vitrine Digital:
Os prefeitos de Pelotas, Rio Grande, Cruz Alta, Taquara e Venâncio Aires estiveram, nesta sexta-feira, em Brasília para assinar convênios com o Ministério da Justiça. O governo vai repassar recursos para que cada município implemente um sistema de video-monitoramento, a fim de reforçar a vigilância em pontos considerados mais perigosos. O objetivo é prevenir a violência e a criminalidade.
Recentemente, os cinco municípios criaram o Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM) – órgão reunindo representantes da prefeitura, Judiciário local, Ministério Público, Polícia Militar e sociedade civil (como sindicatos e entidades de classe). Os membros do gabinete analisam estatísticas sobre a segurança pública no município e sugerem medidas para que os problemas sejam resolvidos.
Vigilância e controle social em nome de mais segurança e felicidade ?

Para entendermos um pouco mais acerca do que vem a ser a Sociedade de Controle trouxe hoje aqui um novo trecho da conversa que tive com Acácio Augusto e Edson Passetti. Vejam no vídeo que segue.

Nele o professor da PUC-SP, Edson Passetti, que escreveu o livro Anarquismos e Controle Social, fala de como funciona o controle dentro da sociedade atual.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Deleuze e a Sociedade de Controle

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Gilles Deleuze e seus Reflexos

O filósofo Gilles Deleuze em certo ponto da década de 90 disse o seguinte:

"Diante das próximas formas de controle incessante em meio aberto, é possível que os mais rígidos sistemas de clausura nos pareçam pertencer a um passado delicioso e agradável".

Aproveitamos os conhecimentos de Acácio Augusto sobre aquele autor para questioná-lo sobre como ele via a questão da Sociedade de Controle.

Acácio é autor do livro Anarquismos & Educação, junto com Edson Passetti. Também escreveu o artigo Para além da prisão-prédio: as periferias como campos de concentração a céu aberto, na revista online Observatório das Metrópolis.

Seria uma espécie de pessimismo nas análises de Deleuze sobre a Sociedade do Controle, nos anos 90, que hoje vemos fluindo como a realidade das favelas cariocas, ou na periferia de Salvador, ou qualquer outra grande cidade ?

As modificações urbanísticas, as políticas pacificadoras (com mais policiamento e mais vigilância) naquelas grandes cidades são na realidade apenas parte de uma complexa construção e manutenção das sociedades de controle a que Deleuze se referia ?

Questionamos e ele nos respondeu. Veja o vídeo que segue.

No próximo Domingo continuo a apresentação da conversa que tive com Edson Passetti e Acácio, em seu apartamento no bairro da República em São Paulo. O encontro aconteceu no dia 17 de Outubro, no final da tarde de um outro Domingo.

domingo, 24 de outubro de 2010

10 segundos para responder 1 questão

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Olá,

Hoje estou deixando aqui uma questão para que seja respodida por quem passa por este blog.

Apenas 10 segundinhos de sua vida para respondê-la. Será um bom feedback para mim que edito o blog.

Um abraço e até Quarta-Feira quando continuo a publicar as entrevistas que fiz em São Paulo.

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Ah... se tiver mais um tempinho faz um comentário sobre o que mais você acha deste blog, diz prá gente como você chegou aqui, e o que acha do tema de pesquisa Vigilância e Controle Social, ou nos fale qualquer outra coisa que deseje.
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Conversa com Ana Godoy (Continuação)

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A conversa com Ana Godoy, já apresentada na postagem anterior, de domingo passado, começa a partir da leitura de parte do seu artigo "A Armadilha na Espessura do que se diz..." (também referido no post anterior). Segue o trecho:
As técnicas de produção e dominação tal como coloca Foucault, não operam somente no sentido de “submeter as subjetividades às práticas divisórias, disciplinares, individualizantes e normalizadoras”, mas o fazem, contemporaneamente, em função de um novo dispositivo de controle – a democracia participativa – que reconhece direitos e determina práticas estabelecendo a legitimidade das falas em torno da produção de um consenso, de um único mundo possível, obtido no debate, tão incessante quanto insistente, de opiniões.
Desta forma, os esquemas de legitimação ganham brilho renovado nas sociedades de controle em que a democracia participativa se explicita na democratização crescente do instrumento de acionamento e produção da opinião: a informação. O que agora interessa regular é a informação, o conhecimento e a comunicação para extrair o máximo de criatividade. O correlato das sociedades de controle é o controle da produção imaterial, passamos assim “das estratégias de interceptação de mensagens ao rastreamento de padrões de comportamento”.
Nos dois vídeos a seguir ela aborda o funcionamento da Sociedade de Controle a partir da modulação de corpos pela via da opinião e dos fluxos de informação. E deixa clara sua visão bem heterodoxa sobre possíveis resistências no âmbito desta Sociedade.

A Opinião antes que um exercício político é uma prática de polícia,
no sentido em que concerne a distribuição dos corpos segundo modos
de ver, dizer, sentir e pensar.

Se o alvo é a existência, valeria perguntar como inventar existências
potentes o bastante para escapar às tecnologias do controle ?

domingo, 17 de outubro de 2010

Opinião, Fluxo de Informação e Controle

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Ana Godoy é graduada em Ciências Sociais, mestre em Ciências Sociais, área de concentração - Antropologia, doutora em Ciências Sociais, área de concentração - Política, todos pela PUC de São Paulo. Pós-doutora em Educação pela UNICAMP.

Posto hoje aqui um pequeno trecho da conversa que tive com ela no apartamento de sua mãe, em Perdizes, na cidade de São Paulo, na sexta-feira, 15 de Outubro de 2010.

Uma pequena amostra de uma conversa onde ela abordou assuntos referentes a Educação, Ecologia, Informação, Opinião Pública, Vigilância, Segurança, e Resistências, mas sempre tendo como pano de fundo a Sociedade do Controle, baseando-se em ideias do filósofo Gilles Deleuze.

Toda a conversa teve como base o texto de Ana Godoy, encontrado na Internet, chamado:



Na próxima Quarta-Feira colocarei aqui os outros trechos da conversa.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Segunda parte da entrevista com Heliana Conde

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Foram lançadas para a professora Heliana Conde duas últimas questões (veja a primeira no post anterior):

2 – A Revista norte-americana Popular Mechanics, em reportagem intitulada “Sociedade da Vigilância: Novas Câmeras High-Tech estão Observando Você”, lembra pesquisa efetuada entre os norte-americanos em julho de 2007 onde 71% dos entrevistados eram a favor do aumento da vigilância eletrônica através de câmeras. Segundo a revista já eram estimadas, naquele momento da publicação, em janeiro de 2009, 30 milhões de câmeras em redor dos Estados Unidos.

É possível imaginar que no momento em que Foucault diz que “o aparelho disciplinar perfeito capacitaria um único olhar a tudo ver permanentemente”, ou seja, “um olho perfeito a que nada escapa e centro em direção ao qual todos os olhares convergem” (pg. 167, Vigiar e Punir, 2009), ele já vislumbraria de alguma forma toda esta parafernália eletrônica de vigilância ?

3 – Quando Deleuze, já nos anos 90, fala da Sociedade de Controle é porque bebeu das mesmas fontes de Foucault ?

O vídeo que segue mostra as respostas da professora da UERJ.

domingo, 10 de outubro de 2010

Foucault e a Sociedade Disciplinar

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Na última sexta-feira (08/10/2010) tive um encontro com a professora Heliana Conde. Ela é Doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP), e hoje ensina na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), localizada no bairro do Maracanã. Ali, no Instituto de Psicologia, foi onde ocorreu o encontro e uma entrevista foi realizada, a respeito de suas pesquisas sobre Michel Foucault.

A seguir posto a primeira questão feita a ela e sua resposta em vídeo.

Até Quarta-Feira, com a continuação da entrevista.

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1 – Acerca do seu artigo Cartografias Minoritárias do Enclausuramento, no Livro coletânea Cartografias de Foucault (Editora Autêntica).

Você diz no texto (pg. 152) que passeia de bicicleta por Vigiar e Punir (com direito inclusive a boas risadas). E logo de início, deixando clara sua paixão por Foucault, você se permite caracterizar o livro dele a partir de três fragmentos:

  • [O poder disciplinar] adestra as multidões confusas, móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais – pequenas células separadas, autonomias orgânicas, identidades e continuidades genéticas, segmentos combinatórios.
  • A multidão, massa compacta, local de múltiplas trocas, indivíduos que se fundem, efeito coletivo, é abolida em proveito de uma coleção de indivíduos separados […] multiplicidade enumerável e controlável […] solidão sequestrada e olhada […].
  • A disciplina […] modela os comportamentos e faz os corpos entrarem em uma máquina, as forças numa economia.
Esses três fragmentos também ajudam a compreender o que acostumamos chamar de Sociedade Disciplinar ?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quem vigia os Vigilantes ?

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Alan Moore em uma de suas grandes obras dos quadrinhos, Watchmen, cria personagens cheios de dúvidas e, às vezes, sedentos de glória. Nem tudo naquele mundo criado pelo inglês é perfeito. A humanidade em crise nem sempre responde aos anseios dos "Vigilantes" de forma positiva. No quadro acima é possível se ver jovens pichando em um dos muros da cidade: "Quem vigia os vigilantes ?".

Não é difícil percebermos que aquela questão é atualíssima, também no mundo real contemporâneo. Mas aqueles que têm a capacidade de vigiar estão se perguntando se fazem a coisa certa ? Há críticas a se fazer a respeito da parafernália eletrônica que nos cerca e nos monitora ?

A questão é tão atual quanto importante e podemos ver o assunto lançado pelas mídias até com uma certa regularidade, mas não necessariamente com qualquer visão crítica. Normalmente, apenas informativa.

Revistas especializadas também vêm debatendo o tema. É o caso da edição de agosto de 2010 da Revista Visão Jurídica. Ali, em duas matérias, são discutidos os temas Vigilância e Privacidade.

Na primeira, "Sorria, você está sendo filmado" são abordados os aspectos legais do monitoramento com câmeras de segurança. Na segunda, "Direito a Privacidade", se questiona a respeito dos limites legais para revistas de funcionários em seus locais de trabalho.

Transcrevemos abaixo um trecho do primeiro artigo, de Patrícia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital.

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Vivemos em uma sociedade mais vigiada, monitorada, o que provoca frequentemente a pergunta: como fica a questão da privacidade? Logicamente, a proteção do indivíduo é uma grande conquista da humanidade em termos de Ordenamento Jurídico, No entanto, muitas vezes, ela cede lugar para a segurança coletiva, e há previsão legal neste sentido em vários países, inclusive no Brasil. Mas há limites? Pode-se, através do Google Earth, observar uma pessoa no terraço do prédio fazendo topless, sem que isso gere um risco jurídico?

Esta realidade mais exposta, mais transparente, trouxe uma série de novos serviços relacionados à vigilância, especialmente com câmeras, cada vez mais conectadas, possíveis de serem verificadas via web, via celular. Há dois tipos de monitoramento em franco crescimento: vias públicas e ambientes corporativos ou domésticos (sejam empresas, sejam condomínios).

No tocante a via pública, a discussão é diminuta, visto que em princípio a pessoa não pode alegar "invasão de privacidade" estando em um local público. No entanto, deve-se ter cuidado com a armazenagem e o acesso a este conteúdo, e o seu fornecimento a terceiro só pode ocorrer por meio de uma ordem judicial, especialmente quando se tratar de câmeras em prédios que apontam para calçada ou para a rua (não é uma câmera instalada na própria via pública como ocorrem em cruzamentos e semáforos).

Já para realização do monitoramento corporativo ou doméstico por câmeras sem riscos legais, deve-se sempre fazer o "aviso prévio", em especial no local principal de entrada do recinto (perímetro físico), visto que a regra é a proteção da privacidade do indivíduo, a não ser que seja feito aviso prévio ou haja uma ordem judicial, para evitar infração à Constituição Federal, art. 5º, inc. IV, X, XII, XXVIII, XIX e XXXV; arts. 21 a 23 do Código Civil; e a própria Lei de Interceptação.

domingo, 3 de outubro de 2010

Pacificando as Cidades

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O texto que segue é encontrado na sua totalidade no Boletim eletrônico mensal do Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertária.

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No Brasil, certos candidatos às eleições de 2010 lançam mão da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) como “sinônimo de ação que pode dar certo”.
Na América do Norte e na Europa fortalecem-se, desde 2008, as “Unidades Territoriais de Bairro (UTB)”, atualmente denominadas “Brigadas Especializadas de Terreno (BET)”, adaptações francesas da community policing, executadas em Chicago e Londres.
Autoridades governamentais, à direita e à esquerda, proclamam: “queremos uma sociedade respeitosa e não uma sociedade rígida, violenta, brutal e egoísta”!
Reconhecem que o cidadão deixa de ser uma ficção, quando o sujeito de direito caminha para se tornar o “indivíduo portador de direitos de uma igualdade formal, rumo à igualdade real”, ou seja, quando se dispõe a cuidar de si e dos outros.
Este cidadão “evoluiu” no interior das lutas de minorias, e reinscreveu o universal na pluralidade e na multiplicidade das demandas identitárias, relacionadas umas às outras. Ele reconhece suas vulnerabilidades específicas e a interdependência das necessidades.
A expansão do pluralismo político em cada indivíduo ampliou o leque de escolhas racionais em variadas organizações da sociedade civil, para além das arregimentações partidárias.
É uma realidade neoliberal em função da cooperação e do bem comum, não apenas como sistema de governo de Estado e dos indivíduos. Todos devem cuidar de si e dos demais, porque todos dependem de algo, e para obtê-lo, de modo seguro, devem pautar suas condutas por meio da tolerância e da confiança de uns nos outros pela difusão da transparência.
A educação de cada um como capital humano, apesar da crise que eclodiu no sistema financeiro em 2008, não teve sua racionalidade abalada.
Os chamados países emergentes, como o Brasil, almejam despontar como potências do século XXI. Orientam-se com base na política participativa, na economia sustentável com responsabilidade sócio-ambiental, na variedade de direitos e em segurança modulada por cada cidadão e pelas tecnologias de informação e comunicação.
A expansão do pluralismo político propiciou o pluralismo policial, projetando o sujeito cosmopolita real.
Em poucas palavras: o súdito passou a ser cidadão e este a sujeito portador de direitos; em suma, permanece amando a sua condição e aspirando a uma “evolução” dentro da ordem.
Ele, ou ela, não se rebela contra a sujeição e amplia suas condutas como assujeitado, um amante das melhorias, na sua condição inquestionável de vida. Sobrevive como força reativa, exercitando a apatia ativa e conformando-se como um policial de si e dos outros.

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