Quando fiz o curso de Jornalismo meu estágio supervisionado, e de mais cinco colegas, foi trabalhando no original Notícias da Cidade, primeiro blog a ser aceito formalmente como estágio pela faculdade.
Hoje vou postar aqui um dos textos que elaborei naquele blog. Nunca é demais lembrar de coisas boas. E, além disso, aqueles que navegam por aqui vão poder descobrir um pouco mais de minhas ideias sobre essa coisa chamada jornalismo.
Boa leitura e até o próximo domingo.
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As Funções de um Jornalista
"Ir para onde está o silêncio. Esta é a responsabilidade de um jornalista: dar voz àqueles que foram esquecidos, abandonados, afastados pelo poder. Essa é a melhor razão que conheço para carregar nossas canetas, câmeras e microfones em nossas próprias comunidades e pelo mundo afora". Esta é uma citação do livro Corrupção à Americana, de Amy Goodman, Editora Bertrand Brasil, publicado em 2005.
Concordo completamente com a autora, jornalista da organização Democracy Now, que faz uma crítica feroz ao atual governo americano, com relação a sua presença no Iraque, e a governos anteriores, acerca da posição americana quanto ao Timor Leste, por exemplo.
Mas, obviamente, isto é uma escolha. É a partir dessas escolhas que o jornalista constrói sua agenda de notícias e assuntos a serem debatidos em seus textos. E, quando falo de escolhas, também falo de escolhas editoriais, que, normalmente, refletem as posições dos editores ou proprietários dos jornais.
Vou me aproveitar mais uma vez da revista semanal Época, de 21 de maio de 2007, para demonstrar como penso que isso funciona de uma forma prática e rotineira. Peguei essa revista e me fixei a seus colunistas ("Nossos Colunistas"). Gustavo Franco, Max Gehringer, Fareed Zakaria e Ricardo Freire.
Tive a impressão, ao terminar de ler os quatro artigos, de estar vivendo em um mundo de uma só direção. Talvez o chamado mundo de um só pensamento. Os títulos já demonstram boa parte do que será o resto do texto: Sete idéias ruins para jogar fora; O fruto do trabalho... alheio; É errado ter medo do livre-comércio; e finalmente, Os segredos para voar pagando pouco.
Em todos os artigos é possível perceber que seria bom para o mundo que o Deus Mercado fosse respeitado, que as leis trabalhistas fossem flexibilizadas, que se deve desonerar as empresas privadas dos impostos, que os trabalhadores devem competir dentro das empresas para que vença o melhor...
Se agregarmos a isso algumas das entrevistas, teremos pérolas de defesa do sistema neoliberal, onde o que importa é a livre competição que sempre trará, na opinião dos entrevistados, o progresso e o sucesso. Como em trecho da entrevista de Ian Bremmer, onde ele diz que "há uma crescente convergência entre esquerda e direita no país sobre a necessidade de conduzir reformas no sistema de aposentadorias e nas finanças públicas". Dá prá perceber pelo resto do texto que a "convergência" a que ele se refere é aquela que tira os direitos dos trabalhadores e, mais uma vez, desonera um tal de "Custo Brasil".
Tudo bem que a revista não é nenhum órgão de imprensa de agrupamento de esquerda, mas bem que eu gostaria de, de vez em quando, ler opiniões contrárias a toda essa linha editorial, que privilegia os textos pró-reformas, esquecendo-se dos "esquecidos e abandonados" trabalhadores.
Outro dia uma professora me disse que eu estava muito pessimista a respeito do mundo, pois privilegiei, em projeto de pesquisa, algumas citações que viam o mundo num beco quase sem saída. Mas não é essa uma das maneiras de começarmos a querer uma mudança ?
Para encerrar este post deixo aqui uma daquelas citações, que admiro pela simplicidade e clareza, de Ignácio Ramonet, diretor-presidente do Le Monde Diplomatique, encontrada no livro Ensaios sobre o Neoliberalismo, da Editora Loyola:
"Nas democracias atuais, cada vez mais cidadãos livres sentem-se atolados, lambuzados por um tipo de doutrina viscosa que, imperceptivelmente, envolve todo raciocínio rebelde, inibi-o, desorganiza-o, paralisa-o e termina por asfixiá-lo. Essa doutrina constitui o 'pensamento único', única autorizada por um invisível e onipresente controle de opinião".
3 comentários:
Eugène Pottier
(A Internacional):
“Messias, deus, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum”
Parece até um ato natural, como a água do rio que sempre corre para o leito salgado das águas oceânicas. Mas, fora da possibilidade da exploração da miséria alheia como fator sensacionalista em pautas jornalísticas, dificilmente, lá estarão: o repórter; o jornalista; o radialista. No silêncio das vielas, onde a plebe tem muita história para contar, perde-se legados históricos de vidas e ações, por estarem distantes dos centros dos poderes, das bajulações e principalmente de quem paga as contas de muitos.
No esporte, o campo de várzea expõe o atleta que provavelmente nunca veremos nas TVs. Na saude, quando entrevistaremos a "velhisna" que auxília em tratamentos, tantos os que tiveram a "sorte" de ingerir certa poção de garrafada artesanal.
As notícia, não são mais unicamente, notícias produzidas de fatos, e sim de material pré fabricado em estruturas e ambientes previamente organizados na criação e fabricação de temas e assuntos como qualquer produto em gândola de supermercado.
Olá, Gideoni...
A isso tudo que você observou em seu comentário os "intelectuais" do jornalismo deram nomes bonitos como "agenda-setting" ou "gatekeepers"...
Fico imaginando o porquê daqueles que detêm o conhecimento dificultarem a sua democratização, e sempre recaio nas leituras de Orwell.
Ignorância é força !!!
Força no sentido exato do poder mantido, do status quo mantido, da mesmice rotineira onde as notícias rondam sempre os mesmos temas e as mesmas pessoas "importantes".
Sobram as migalhas para o povo, com o miserê mostrado nos programas "populares" na TV, nos nossos horários de almoço.
um grande abraço,
cb
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