domingo, 28 de março de 2010

Teletelas, Big Brothers e a Tecno-Democracia

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Trecho do Vídeo-Documentário acerca do livro 1984 escrito por George Orwell em 1948.
Produzido pela TLC, associada a Discovery.

Quem desejaria em sã consciência uma pequena “teletela” orwelliana em seu bolso, na figura de um celular de terceira geração ? Por que devemos aceitar tranquilamente que câmeras estejam a cada esquina direcionadas as nossas ações mais particulares ?

Alguns chamam a esta sensação de que todas estas questões nem precisam ser respondidas de naturalização de processos que na realidade são históricos, e têm uma origem, um objetivo. 

É preciso analisar onde está nos levando todo este processo de naturalização das tecnologias de controle e vigilância. Nortear-se através de uma ética humanista neste momento é mais do que necessário.

Na ditadura imposta pelo Ingsoc do livro de 1984 as pessoas não tinham muitas opções, nem qualquer direito a negar o que o Partido do Grande Irmão (Big Brother) desejava. Mas hoje ainda temos um pouco de possibilidades de resistir. E para isso é importante que entendamos um pouco o que é realmente o mundo em que vivemos.
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Primeiro de tudo percebermos que este é um mundo que tem história, onde alguns mandam, outros obedecem, e alguns ainda resistem. Mas isto não começou devido a uma ordem transcendental vinda do Cosmos. Como dizia o filósofo francês Michel Foucault:

a verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros...
Se o atual regime de verdade nos direciona a acreditar na inexorabilidade do poder tecnológico, então tentemos compreender este regime e façamos com que mude. É possível mesmo usar toda parafernalha de convergência existente para mudar a atual “política geral” de verdade, particularmente através de trabalhos colaborativos, de pesquisa, propaganda e ação, e desenvolver uma via democrática para a inteligência coletiva, termo criado por outro filósofo, Pierre Levy.

Entender que as técnicas não determinam nada sozinhas, como percebe o próprio Pierre Levy, já é um bom começo. É necessário que todos possam compreender que as técnicas resultam de contextualizações e subjetivações históricas definidas e nada é inexorável na história.

 Levy também sustenta que nunca poderemos ter respostas absolutas às questões do conhecimento coletivo. Mas, ao contrário, sempre podemos desejar um mundo melhor para todos e procurar outras razões que não as do lucro, e outras belezas que não a do espetáculo, em busca do que ele chama de Tecno-Democracia.

Mas isto não acontecerá, afirma Levy, “a menos que renunciemos previamente à idéia de uma tecnociência autônoma, regida por princípios diferentes daqueles que prevalecem em outras esferas da vida social”.

Quarta-Feira volto a postar.

2 comentários:

Anônimo disse...

TANIA MONTANDON:

"O homem da disciplina era um produtor descontínuo de energia, enquanto o homem do controle é mais ondulatório, que funciona num feixe contínuo.

As antigas sociedades de soberania manejavam máquinas simples, alavancas, roldanas, etc.

As sociedades disciplinares recentes tinham por equipamento máquinas energéticas.

As sociedades de controle operam por máquinas de informática, cujo perigo passivo é a interferência e o ativo à pirataria e introdução de vírus.

Além de uma evolução tecnológica, é, mais profundamente, uma mutação do capitalismo."

Rios disse...

Sim, é indispensável que tome-se esta consciência, de que as técnicas só funcionam porque as colocamos e permitimos que as coloquem em prática. Hoje, luta-se muito mais por interesses que por direitos, sejam individuais ou coletivos.